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Now and Ever | Oliveiras, de Renée Gagnon
14 Julho 2017 - 10 Outubro 2017
14 de julho a 10 de outubro
A FPC | Museu das Comunicações e a Giefarte apresentam a exposição “Now and Ever | Oliveiras”, de Renée Gagnon. Curadoria de Manuel Costa Cabral.
Renée Gagnon já viveu várias vidas e todas elas começaram com uma viagem. Como a deslocação ao Alentejo, em 2014, em que deu por si a fotografar oliveiras ancestrais. Ficou de tal forma impressionada com os sulcos daqueles troncos que se lançou na pesquisa que a levou à Sardenha italiana ou ao Museu de Oliveiras milenares ao ar livre nos arredores de Barcelona. No regresso ao seu estúdio em Lisboa, começou a trabalhar as fotografias em Photoshop e a aplicar-lhes tinta, posteriormente, num processo evolutivo, de construção da imagem; em que se acrescentam camadas artísticas ao original fornecido pela natureza. O resultado final é agora apresentado na exposição “Now and Ever | Oliveiras”.
Da Oliveira
“A busca da eternidade é obsessão de todas as religiões e o que mais se assemelha a essa busca é a existência de árvores que atravessaram os séculos e continuam a dar fruto. A Oliveira é uma dessas árvores mágicas. Provavelmente oriunda da Turquia, cobria outrora matas silvestres de toda área circundante do Mediterrâneo e suas ilhas. A Oliveira brava é mais antiga do que o aparecimento do homem.
Em Bechealeh, no norte do Líbano, encontram-se Oliveiras de idade superior a seis mil anos que assistiram ao Dilúvio. Segundo a Bíblia, foi uma pomba que levou a Abraão o ramo de Oliveira que anunciou o fim da ira de Deus. Segundo Homero, a deusa Atena plantou uma Oliveira na Acrópole, para auspiciar prosperidade. E a literatura ocidental refere-se inúmeras vezes à Oliveira.
Ainda existem no Alentejo e no Algarve exemplares com mais de dois mil anos. Quando as vi pela primeira vez, senti um choque físico, quase carnal; a reflexão cultural veio mais tarde. Estes gigantes retorcidos, bojudos, enrolados sobre si mesmos ou explodindo em vários troncos, ao mesmo tempo pedra e seiva, são extremamente impressionantes. Peguei na máquina fotográfica para fixar a minha emoção.
Depois do primeiro choque no Alentejo, fui procurá-las na Sardenha (espécimes de mais de quatro mil anos), ao sul de Barcelona (a maior concentração do mundo de oliveiras milenares, mais de quatro mil e duzentos exemplares) e em Creta. Fotografei-as à luz da primavera, do verão, do outono e do inverno. Entraram no meu corpo e restituí-as com a minha sensibilidade, o meu percurso artístico e humano.
Usando técnicas de manipulação e transformação da imagem fotográfica, obtenho impressões a cores de grande dimensão (1,26 m de largura) de árvores isoladas que recrio manualmente. Paralelamente, trabalho sobre impressões de pequenas dimensões, de olivais com árvores mais jovens, que assumem tons de aguarela. Antepondo um acrílico muito espesso, transformam-se em objectos. Umas e outras procuram comunicar a emoção que me transmitem estes gigantes do tempo, e consubstanciam em mim a Ideia que tenho hoje da Oliveira.” – texto de Renée Gagnon.
Sobre a artista
Nascida em Montreal, no Canadá, Renée Gagnon vive e trabalha em Lisboa, onde se fixou em 1970. As últimas décadas da sua vida foram dedicadas ao cinema, na área da distribuição, presentemente com a Marfilmes. Concentrou-se a vender cinema português para o mundo e especializou-se em cinema africano, depois de uma estadia em Angola. Esteve ligada ao Quarteto, ao Animatógrafo, e chegou a trabalhar com Andy Warhol.
No entanto, a sua formação é em Belas Artes, com um Diploma de Pintura da Escola de Belas Artes de Montreal e outro da Escola do Louvre em Paris, onde estagiou na Grande Chaumière com o pintor Aujame.
Em 1970, já em Lisboa, começa a concentrar-se em Técnicas de Serigrafia sobre tela de grande dimensão em Lisboa. Entre 1972 e 74 reside em Luanda. Em 1975 começa a dedicar-se ao estudo sistemático do tipo de construção dos Musseques com uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian. Elabora várias publicações sobre o tema dos Musseques e doa ao Estado de Angola o conjunto dos seus trabalhos (textos e fotografias) sobre o fenómeno.
Desde 1976, assinou diversas publicações, participou em sete exposições individuais, de Faro a Zurique, e mais de dez coletivas. Os seus trabalhos estão representados nas coleções da Fundação Calouste Gulbenkian, na Fundação Júlio Resende, na Caixa Geral de Depósitos, na Secretaria de Estado da Cultura, na Valor Sul Lisboa, na Presidência da República da Angola e na Câmara Municipal de Luanda e Lobito.
Depois de várias décadas dedicadas ao cinema, regressa às artes visuais para nos ajudar a ver na oliveira “um ser vivo que atravessa os séculos”.
Informações úteis:
Renée Gagnon está disponível para a marcação de visitas guiadas (e-mail:renee@marfilmes.com).
Entrada livre.
Patente até 10 de outubro 2017.