A Mulher Telefonista do séc. XIX

1891 – Telefonistas – Foto de Grupo

Assinalamos hoje o Dia Internacional da Mulher, lembrando as mulheres que na segunda metade do século XIX trabalhavam nas centrais telefónicas, como telefonistas, também conhecidas como “As Meninas dos telefones”.

A invenção do telefone, por Bell, deu-se num momento em que tanto na América como na Europa, campanhas de emancipação despertavam as mulheres para a procura de emprego fora de casa. Foi assim, que dia após dia, se foram preenchendo as vagas para a função de telefonista, responsável por operações manuais de comutação ou encaminhamento de chamadas telefónicas. Em 1882, empregavam-se cerca de nove telefonistas em Portugal, e em 1900 havia 15 telefonistas no Porto e 20 em Lisboa, com salários mensais entre os três e dez mil reis, para uma atividade diária de oito horas.

Porém, nem todas as mulheres podiam ser admitidas para telefonistas, era-lhes exigido um conjunto de requisitos. Desde logo, tinham de ser jovens entre os 16 e 20 anos e solteiras, o que se justificava pelo trabalho noturno e fins de semana a que estavam sujeitas e que não era aceite no casamento. Tinham de ter no mínimo 1,50 de altura, ter boa audição, e, uma voz e dicção bem percetíveis.

Após um exame médico exaustivo na admissão da telefonista, ela entrava na Escola Técnica para um curso de apenas dois meses, onde aprendia os códigos da telefonista e do sistema dos telefones, a manipulação de chamadas e os regulamentos da Companhia.

Qualidades de discrição, eficiência, dedicação e esforço eram exigidos em todos os momentos do atendimento ao público.

Durante décadas, o trabalho da telefonista foi o pilar das comunicações por voz – ela conhecia o nome de quem lhe pedia as chamadas, os gostos, os hábitos e até mesmo os humores.

Com o crescimento da procura do serviço telefónico nas cidades, o trabalho da telefonista perdeu gradualmente o tom pessoal, e para garantir a sua eficiência e rapidez passou a ser controlado por vigilantes. Em 1923, por exemplo, uma telefonista no Porto estabelecia uma média de 450 chamadas nas 8 horas de trabalho diário.

Em tempos agitados como 1910 e mais tarde 1915, os jornais escreviam sobre a heroicidade das “meninas dos telefones” que mesmo exaustas pelos difíceis e longos dias de guerra, asseguravam as comunicações, sempre com o mesmo profissionalismo e simpatia.

Quando no início da década 30 se deu o grande avanço tecnológico da automatização da rede telefónica, a intervenção da telefonista passou a não ser necessária para se estabelecerem as ligações telefónicas, caindo o seu trabalho a pique. No entanto, isto resultou numa melhoria significativa na qualidade do serviço prestado, em tempo e nos custos de mão de obra, o que viria a traduzir-se num enorme benefício para os assinantes, já que as tarifas telefónicas ficavam mais baratas e acessíveis.

Convidamos o público a visitar a exposição “Vencer a Distância” e a conhecer toda a história da “costureirinha” e das telefonistas de bata creme com gola e punhos azuis.

Créditos foto: Arquivo iconográfico à guarda da FPC