Olá querida Avó,
Tenho muitas saudades, por isso escrevo-te esta carta.
Há uns dias, estava a brincar com a minha irmã Marta (não chegaste a conhecer) e com o Vicente, quando a mamã me chamou. Quando cheguei à sala, a mãe disse-me para me sentar, pois a conversa iria demorar. Esperei pacientemente que fizesse ou dissesse algo. Enquanto esperava, olhava fixamente para a caixa em cima da lareira. A mãe perguntou-me se eu tinha curiosidade em saber o que a caixa continha e eu respondi que sim, pois sempre me interroguei sobre o que estaria lá dentro. A mãe pegou nela, pousou-a no colo e começou a falar: «Matilde, lembras-te no dia das profissões, de eu não ter ido à escola? E de nunca te poder dizer a minha profissão?» Eu interrompi e disse: «Mãe, tu dizias sempre que eu não estava pronta para saber e que tinha de crescer mais.” A mãe continuou a falar: «Hoje é esse dia». Calada e espantada fiquei a ouvir. « Matilde, a minha profissão é ser SUPER-HEROíNA. Esta missão é passada sempre para o filho mais velho e, agora, chegou a tua vez, pois eu estou com problemas nos joelhos.»
Avó, a mãe também me contou que toda esta aventura começou contigo. Explicou-me que há muito tempo, tu pegaste num colar com uma concha perfeita e várias pérolas do mar e criaste o colar multipoderes para te ajudar nas tuas heroicas missões. Também me contou que a tua última missão foi salvar uma menina de ser atropelada. Que apareceste em capas de jornais e, por isso, tiveste de passar o legado à próxima super-heroína da família, a minha mãe e que, para não a prejudicares e à sua missão, desapareceste. E foi assim que percebi que agora é a minha vez de dar continuidade ao teu legado.
A mãe entregou-me a caixa e as diferentes pérolas começaram a dançar no ar e seis delas, para meu espanto, não voltaram para dentro da caixa. A mãe explicou-me que estes seriam os poderes que teria de usar. Peguei no fio e nas pérolas e coloquei uma a uma até terminar o colar. Assim que terminei, a mãe colocou-me o colar e disse-me que tinha ganho o poder da luz, da faísca, da velocidade, da inteligência, da super força e da fusão. De seguida, explicou-me as três regras fundamentais: 1ª – nunca usar o poder para o mal; 2ª – ser muito responsável ao utilizar os poderes; 3ª – a mais importante, nunca permitir que descubram a minha identidade. Fiquei tão eufórica que, mal a mamã acabou, levantei-me para ir contar aos manos, mas a mãe travou-me e disse-me que ninguém poderia saber, para além de nós, e que a minha primeira missão ia já começar nesta noite. Fiquei super entusiasmada e a contar as horas que faltavam. Fui para o meu quarto e planeei passo a passo tudo o que iria fazer naquela noite.
Finalmente, a noite chegou. Quando todos dormiam, coloquei o meu colar e a transformação aconteceu. Quando me vi ao espelho não me reconheci, pois o meu pijama deu lugar a um fato de SUPER-HEROÍNA. De repente, sem eu perceber como, a janela do meu quarto abriu-se e eu saí a voar. A minha missão começava… Apertei o poder da inteligência e consegui ir a todas as escolas do mundo deixar nos manuais de Cidadania as regras de segurança e circulação na estrada. Demorou imenso tempo, mas valeu a pena. De seguida, apertei o poder da super-força e fui colocar ímans de carro em carro. Estes serviam para evitar que os carros batessem uns nos outros, pois como eram ímans opostos afastavam os carros. Continuando a minha aventura, apertei o poder da luz e iluminei com painéis solares todas as passadeiras. Nas passadeiras passou a ser sempre dia. O poder seguinte que utilizei foi o da velocidade que pôs as estradas a tremer, como gelatina, sempre que os carros excediam o limite de velocidade. De seguida, apertei a pérola do poder da faísca e coloquei entre todas as estradas e os passeios uma aplicação informática que produzia uma faísca sempre que algum carro se aproximava demasiado de um passeio em que ia uma pessoa.
Quando regressava a casa apercebi-me de uma criança que atravessava a estrada e de um carro que se dirigia a ela a alta velocidade. Fiquei sem saber o que fazer e resolvi apertar com força o poder da fusão que fez com que eu e a criança nos transformássemos numa só pessoa e assim a consegui salvar de ser atropelada. Estava exausta mas feliz, pois sabia que no dia seguinte todas aquelas mudanças iam começar a dar fruto.
Avó, agora não vou desistir. É a minha vez.
Beijinhos da tua neta SUPER-HEROÍNA.
Matilde Silva