Página 56 - Códice nº7, ano 2010

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Assim, aoMuseudos CTT - espaçoprivilegiadode exibiçãodos objectos
ligados à História das Comunicações – sucedeu o Museu das Comuni-
cações que, a par daquele objectivo, prossegue agora desafios mais
abrangentes, entre os quais servir o interesse público, sobretudo
através da contribuição para o desenvolvimento sócio-cultural dos
seus visitantes, entre os quais a comunidade local.
A génese do projecto: O Dia Internacional
dos Museus e o tema Museus e Turismo
«
Do Museu ao Bairro, Histórias de Viajantes» surgiu do desafio lan-
çado pelo Instituto dos Museus e da Conservação aos museus inte-
grados na Rede Portuguesa de Museus para a comemoração do Dia
Internacional dos Museus de acordo como tema proposto pelo ICOM
para o ano de 2009: «Museus e Turismo». Trabalhar o conceito de
turismo surgiu, então, associado a um público residual do Museu – a
comunidade local – que constitui o «coração» do projecto.
Este projecto foi muito importante para o Museu das Comunicações,
instituiçãoainda jovemna zona, que procurao estreitamento de rela-
ções comos seus vizinhos, enquanto agente de regeneração urbana,
demudança e desenvolvimento social. E a sua concretização abriu um
caminho para acções futuras.
A proposta doMuseu das Comunicações foi trabalhar asmemórias da
comunidade através da partilha das experiências que envolvessem
a ideia de «viagem turística», proporcionando o espaço necessário
para a viagem metafórica da própria vida dos habitantes do bairro
da Madragoa.
Outro aspecto fundamental na construção do conceito da exposição,
paraalémdoshabitantes, foi o territóriodaMadragoa, comumpoten-
cial atractivo para o objectivo a que nos propusemos: a experiência
turística numbairro lisboeta com fortes ligações à história da capital.
Finalmente, nota distintiva neste projecto, a par do protagonismo da
memóriacomunitáriaedoatractivo turísticodo território, foi o trabalho
em rede ou parceria, que envolveu, para além do Museu das Comuni-
cações e dos habitantes do bairro, várias entidades que partilham o
mesmo território: a CâmaraMunicipal de Lisboa – Unidade de Projecto
da Madragoa, a ETIC – Escola de Tecnologias de Imagem e Comuni-
cação, a Junta de Freguesia de Santos-o-Velho, o Museu da Água da
EPAL, oMuseudaMarioneta, oCentrode InterCulturaCidade, oTeatro
«
ABarraca»eaAssociaçãoEtnia, noâmbitodoProjecto«Madragoa»
desenvolvido pela Comissão Social de Freguesia de Santos-o-Velho.
OMuseu das Comunicações, ao propor a realização do evento na sua
tríplice valência – exposição, documentário e visitas guiadas ao bairro
no âmbito da Comissão Social de Freguesia, optou por trabalhar ins-
titucionalmente como voluntário social segundoomodelodeparceria.
Só assim foi possível o envolvimento da comunidade e a construção e
promoção de valores de pertença colectiva alimentados pela diversi-
dade cultural e pela participação cívica activa.
No início do percurso expositivo um texto de parede explicava:
«
A valorização turística do bairro apresenta uma dimensão mais
abrangente uma vez que é a própria comunidade que desenha o
conceito de turismo, representado na dimensão simbólica e imaterial
dos objectos que aqui são partilhados.
Através dos testemunhos orais, as pessoas dão a conhecer o patrimó-
nio histórico do bairro daMadragoa, promovendo-se assima reflexão
sobre a sua actualidade e desenvolvimento turístico sustentável.
Viajar nas ruas do bairro quinhentista daMadragoa é reconhecer, na
cidade, o tempo que lhe deu vida, o espaço que lhe deu forma e as
gentes que o eternizam. Das varinas e seus pregões, dos conventos e
palácios, aos fados de umpassado, numamoldura de casario colorido
e luminoso que sobre o rio espreita...
Varinas à porta do mercado 24 de Julho, 1909, Joshua Benoliel, Arquivo Municipal de Lisboa/Núcleo Fotográfico.