Página 1 - Códice nº7, ano 2010

Diploma do Instituto Industrial eComercial deLisboa, autenticado com selo branco, atribuído aHumberto Júlio daCunhaSerrão, eminente
funcionário dosCorreios eTelégrafos, responsável peloServiçoPostal deCampanha doCorpoExpedicionárioPortuguês, durante aGrandeGuerra.
O diploma enumera o conjunto de disciplinas obrogatórias de acordo com oRegulamento daquele Instituto de 9 de Julho de 1903.Arquivo histórico daFPC.
30
de Correios, Telégrafos e Faróis, na dependência da Direcção-
-
Geral.Coma reformados Institutos Industriaispromovidapelo
ministrodasObrasPúblicas,Comércioe Indústria,EmídioNavarro,
oCursodeTelégrafospassaaser leccionadonos Institutos Indus-
triais de Lisboa e Porto até 1891, sob os auspícios de Benjamim
Cabral,eminenteprofessordaquela Escolaem Lisboa.
Datade 1892odecreto regulamentardasEscolasElementaresde
Telegrafia,existentes juntodasCentraisdeLisboaePorto,ficando
reservadoaoensinoavançadodo funcionamentodosaparelhos
e sua construção o Curso de Física Industrial, em paralelo com
o Curso Técnico de Telégrafos, ambos a funcionar no Instituto
Comerciale Industrialde Lisboa,sobasupervisãodomesmoBen-
jamimCabralqueosconcebeu,quesóseráafastadonasequência
do5deOutubro.As suas instalações situavam-senoantigoPaço
daMadeira,naRuadaBoavistanúmeros 79a83, curiosamente
ounão,muitopertodasededaFundação,quese localizanaRua
do Instituto Industrial.Naquele localviriaa instalar-seo Instituto
SuperiorTécnico, criadopelas reformas republicanasde 1911, sob
inspiraçãodadistinta figuradeAlfredoBensaúde.
A instruçãoprofissionale técnicapara serviçodos correios, telé-
grafos e telefones conheceu, aliás, com a legislação do período
republicano,uma consolidaçãoeenriquecimentonotáveis.
Nocontextododecretocom forçade leide24deMaiode 1911que
determinouaautonomiaadministrativae financeiradaAdminis-
tração-Geral dos Correios e Telégrafos, sob a tutela directa do
ministro do Fomento, Brito Camacho, foi reformulado o ensino
profissionalcujacriaçãodatavada reformaorgânicadosserviços
de 1892ecujoprincipalmentortinhasidoPauloBenjamimCabral.
A organização dos serviços de correios e telégrafos de 1901 já
tinhaaprofundadoestavertente técnico-profissionale,em 1911,
A
formaçãoprofissionaldopessoaldoscorreiosfoisempreuma
exigênciano contextodestaactividade. Sea educação for-
malera condição
sinequanon
paraaentradanoexercíciodesta
profissão desde o princípio do século XIX, como o testemunham
inúmeros documentos existentes no Arquivo Histórico da Fun-
dação Portuguesa das Comunicações, esta necessidade veio a
agudizar-secoma introduçãodotelégrafoeléctricoem 1855ecom
as reformasfontistasquevisavamo
aggiornamento
dasociedade
portuguesa,aosmaisdiversosníveis, comparticular ênfasenas
infra-estruturastécnicasdascomunicações–estradas,caminhos-
-
de-ferro, telégrafo.
Iremosprocurar traçar,embrevesnotas,aevoluçãodaprepara-
ção técnico-culturaldos funcionáriosdesdea sua institucionali-
zaçãoatéao fimdeperíodo republicano e suas repercussõesno
período inicialdaDitaduraMilitar/EstadoNovo.
Seosprimórdiosda introduçãodo telégrafoeléctrico,abertoao
serviçopúblicoem 1857, constituiuum sucesso, conhecendouma
extraordináriaexpansãoduranteasdécadasquese lheseguiram,
já as condições técnicas de fornecimento do serviço eram, por
vezes, deploráveis, pelomau estado do equipamento e, sobre-
tudo,pela faltadepreparaçãodopessoal.
José Vitorino Damásio, nomeado em 1864 como director-geral
interino dos Telégrafos do Reino, vem denunciar esta situação
e propormedidas de exigência nas habilitações de entrada na
profissão, nomeadamente o domínio de línguas estrangeiras e
de ciências físico-matemáticas,alémde reconhecidaaptidãona
práticada telegrafia.
Maso verdadeiro saltoqualitativodá-se,na sequênciada fusão
dosserviçosdecorreiosetelégrafos (1880),comocontributodeci-
sivodePauloBenjamimCabralparaacriaçãodeumCursoPrático
A Escola de Correios
e Telégrafos: apontamentos
IsabelVarão
|
Licenciada emHistória (UL),Pós-Graduada emCiênciasDocumentais (UL)
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A Escola de Correios e Telégrafos: apontamentos
Isabel Varão
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Do museu ao bairro, histórias
de viajantes
CristinaWeber
|
Directora doMuseu dasComunicações
A tradiçãodosmuseusdehistóriae técnica
easnovas tecnologias
OMuseudaFundaçãoPortuguesadasComunicaçõesprosseguecom
a tradição do seu«antepassado»Museu dos CTT, apresentando
aopúblicoumespaçodedivulgaçãodahistóriadasComunicações,
atravésdaexibiçãodosobjectosedocumentosquefizerampartedo
quotidianodasprimeirasentidadesoperadorasdecomunicaçõesem
Portugal,nomeadamente,AdministraçãoGeraldosCorreioseTelégra-
fos, ICP,ANACOMeasempresasCTT,APT,CPRM,TLP,TDT,TMNePT.
Mas, oMuseu dasComunicaçõesapresenta duas diferenças subs-
tanciaisrelativamenteàquela instituição:porum lado,porefeitodas
alterações estatutárias das empresas do sector de comunicações,
constituiu-se,comumobjectomais lato,nummuseudefundação,e,
poroutro lado,porefeitodatransformaçãodoconceitodepatrimónio,
entretantoassimiladapelosnormativosnacionais e internacionais,
viualargadaasuamissão.
Hojeomuseutemcomomissãonãosóguardar,conservar, investigar
edivulgaropatrimóniohistórico,mas tambémapresentarasnovas
tecnologias do sector. Para tal tem vindo a desenvolver diferentes
projectosexpositivosdedicadosaessamatéria:aCasado Futuro,a
Escolado Futuroea FPC Future Labs-ExperiênciasVisuaisdo Futuro,
actualmentedesignadaFPC-Future Labs2.0
Estas exposições representaramuma viragemna tradicional forma
deapresentaçãodahistóriadascomunicações,aoexporemasmais
modernastecnologiasdascomunicaçõesnoespaçodomuseu.
EstesprojectosresultaramdeumaestreitacolaboraçãoentreaFunda-
çãoPortuguesadasComunicaçõesediferentesparceiros,cujoaspecto
importante éa convergênciade interessesnapromoçãodasnovas
tecnologias,nãonuma lógicadeconcorrênciamassimdecomplemen-
taridadedesoluções.Asexposiçõesdedicadasàsnovastecnologias,
integradasnummuseudetradiçãoclássica,sãoexplicadaspelofacto
da Fundação Portuguesa das Comunicações, em que se integra o
MuseudasComunicações,serconstituída,porum lado,porempresas
emactividadenodomíniodaprestaçãodeserviçosdecomunicações,
numsector liberalizadoeem regimede livreconcorrência,eporoutro
lado,pela instituiçãonacional responsávelpelatuteladosector.
Anecessidadedeosoperadoresdecomunicaçõescorresponderemà
procuradosconsumidores impôsumritmoeumaresponsabilidadede
adesãoàssoluçõestecnologicamentemaisvanguardistas,sobpena
deperderemomercado.
Amodificaçãodo conceitodemuseu
eoalargamentoda suamissão
OprofessorMárioMoutinho
1
,
docentedoDoutoramentoemMuseolo-
giaereitordadauniversidadeLusófona,ensinaqueomuseudistante
eelitistadeu lugaraomuseu conscienteda relaçãoorgânica como
seucontextocultural.
Aprofessora JuditePrimo
2
,
tambémdaUniversidade Lusófona,con-
tribuiparaoentendimentodestamutaçãoquandoafirmaque«...A
metodologiadaeducaçãopatrimonial,baseadanodiálogo,na inda-
gação activa e na experimentação, visa facilitar a aprendizagem
mútua que se desencadeia pormeio dasmemórias e experiências
compartilhadas, da herança patrimonial e do próprio património
colectivo,facilitandoarelaçãodo indivíduocomogrupoecomomeio
ambiente...para omuseólogo responsável pela acção educativa e
cultural dosmuseus, o exercício profissional ... passa pela preocu-
pação socialde suaspropostas,pelabuscadeumdiálogo cadavez
maiorcomdiversossectoresdasociedade,pelaactualidadedesuas
acções, epeloaprimoramento e reflexão contínuosde suasactivi-
dadeseducativas...»
Aguadeiros do chafariz daEsperança, 1907, JoshuaBenoliel,ArquivoMunicipal deLisboa/NúcleoFotográfico.
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Do museu ao bairro, histórias de viajantes
Cristina Weber
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ANO XIII
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SÉRIE II
|
2010
|
ANUAL
|
NÚMERO SETE
presidente do conselho de administração
JOSÉ LUÍS C. ALMEIDA MOTA
director
ISABEL SANTIAGO
coordenação editorial
RITA SEABRA
colaboraram neste número
CRISTINA WEBER,
ESTELA VIEGAS,
GONÇALO NUNES RODRIGUES,
ISABEL VARÃO,
JOÃO CONFRARIA,
LUIZ GUILHERME G. MACHADO,
LUÍS OLIVEIRA,
TERESA TEIXEIRA
direcção gráfica
LUÍS SOARES, PAULO FRÓIS
ilustração
CÉSAR DUARTE
paginação
DUPLADESIGN, LDA
fotografia
CLAÚDIA JORGE FERREIRA
JOSÉ MANUEL LOPES
MADALENA ALEIXO
MARGARIDA FILIPE
PEDRO INÁCIO
ACERVO ICONOGRÁFICO DA FPC
pré-impressão, impressão e acabamento
TEXTYPE, ARTES GRÁFICAS, LDA
Estrada de Benfica, 212 A, 1500-094 Lisboa
sede de redacção
Rua D. Luís I, 22, 1200-151 Lisboa, 213 935 000
propriedade
FUNDAÇÃO PORTUGUESA DAS COMUNICAÇÕES
Rua D. Luís I, 22, 1200-151 Lisboa
NIPC: 504 166 255
editor
FUNDAÇÃO PORTUGUESA DAS COMUNICAÇÕES,
DIRECÇÃO DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
depósito legal
125 540/98
issn
0874-2901
tiragem
750
EXEMPLARES
Códice é uma publicação registada sob o número 122 468
capa e verso da contra-capa:
Ilustrações de César Duarte
EstelaViegas
|
ComunicaçãoExecutiva - IBMEuropa
/
GonçaloNunesRodrigues
|
Docente doEnsinoUniversitário
O planeta inteligente
4
nãodizendorespeitosóa ineficiênciasdasTIC,masdasorganizações
emgeral.Ouseja,cidadescongestionadasepoucoseguras, fraudes
no sistema de saúde, falhas na rede eléctrica, rios poluídos, fraca
sustentabilidadedosprocessosprodutivos,etc.
Estatomadadeconsciênciaperfilanovasexpectativascomenfoquena
produtividade,mudançaestrutural,sustentabilidadeecrescimento.Se
porum lado,atentosaestasnovasexpectativas,poroutro,os líderes
estãotambémempenhadosemtirarpartidodosavançosda indústria
dasTICparaexecutarnovasestratégias.No fundo,éolharmospara
a actividade das tecnológicas, incluindo o que o desenvolvimento,
investigaçãoe inovação representam,na criaçãodeum futuromais
instrumentalizado, interconectadoeobjectivamentemais inteligente.
Emsintoniacomtudo isto,têmvindoaseranunciadas recentemente
iniciativasdediversa índolequetêmas«cidadesdigitais»comoponto
departidaparaumprojectocomumdedemocratização tecnológica,
ondeporexemplosedestacaumprograma
suigeneris
,
emquea IBM
premiarácemmunicípiosdetodoomundocom50milhõesdedólares
emtecnologiaeconsultoria,comvistaacontribuirparaumcrescimento
bem sucedido,melhores serviçosemaiorenvolvimentodos cidadãos
emáreascomoaadministraçãopública,saúde,educação,segurança,
transportes,energiaecomunicações.
Outro exemploainda, caroa todososque vivem submersosna cor-
reriadiáriadasurbes,éo sistemadegestãode tráfego:começamos
por instrumentalizarasestradas,os semáforoseas câmaras como
objectivode recolher todaesta informaçãoem tempo real, resultan-
douma interconexão de processos, sistemas e dados emhistórico,
que evidenciam padrões de fluxo. Estes dados são posteriormente
trabalhadosnumaanálise concretados sistemas,permitindoaferir
a informaçãonecessáriaparaseadaptaremessesfluxosàcrescente
utilizaçãodas infra-estruturas.Damesmaforma,osdadosrecolhidos
O
transístorfoiocomponenteelectrónicoprimordialdaeradigital,
construídaapartirdadécadade50doséculoXX. Imaginemos,
agora, ummundo onde a evolução galopante nos faz chegar ao
númerodemilmilhõesde transístorespor serhumano.Ummundo
ondemaisdequatromilmilhõesdeutilizadoresde telefoniamóvel
se ligacontinuamentenumarededecomunicaçõessemprecedentes.
Ummundoquegeradiariamente25biliõesdemensagens informa-
tivas sobre transacções comerciaisnos diversosmercadosà escala
global.
Porque tudo istoécomplexo, resolvemosacrescentaraindamaisum
nível, o da interconectividade colaborativa.Alguns números falam
por si e actuam como verdadeiros alertas: não faltarámuito para
chegarmosaosdoismilmilhõesdepessoas comacessoà internet,
produzindodiariamente cincopetabytesdenova informaçãoemais
de 19horasdepesquisa semanal,onde 500milhõesdeutilizadores
interagemnamaior rede socialdaactualidade,oequivalentea 7%
dapopulaçãomundial.
Separarmosummomentoparapensarnoquepotenciouestaexplo-
sãopordetrásdosnúmeros,éfácil:aproliferaçãodatecnologiaedas
comunicaçõesestáageraresta interconexãomassivaesignificativa-
mentecomplexa,ondesistemaseobjectoscomunicamentresinuma
evoluçãoexponencial.
Pensemosnaperspectivadeterumtriliãodecoisas instrumentalizadas
econectadas, ligandoomundo físicoaomundovirtual,enovolume
de informaçãoproduzidapela interacçãodetudo isto.Umarealidade
sem igual.Eporúltimo,pensemosnestanova«internetdascoisas»
comoum«novonormal».
Neste cenário,os sistemasquegovernam comunidades,mercados,
empresas e pessoasnão podemmais ser geridos de forma isolada
quandoos custosdas suas ineficiências sãoaltoseexigem solução;
4
O planeta inteligente
Estela Viegas/Gonçalo Nunes Rodrigues
10
Serviço universal
João Confraria/Luís Oliveira
móveis,entreredesdetelefoniafixaedetelevisãoporcaboouentre
telecomunicaçõesetecnologiasde informação.
2
Nestecontextodegrandeecrescentedinamismo,umadaspolíticas
públicasmaisdiscutidasnosmercadosdecomunicaçõesnosúltimos
20
anos foiapolíticade serviçouniversal.Teveumpapel centralno
processode liberalização.Umadefiniçãocorrentedoserviçouniversal
decorreios,assimcomodetelecomunicações,éadeumserviçodispo-
nívelparatodaapopulação,aumpreçoacessíveleuniformeemtodo
oterritórioecomumaqualidadedeserviçoadequada.Ora,admite-se
geralmentequeemmercados liberalizadosa livreconcorrêncianãoé
suficienteparaasseguraradisponibilidadedos serviçosde comuni-
caçõesatodos. Istoacontecepor razõesdeeficiência, relacionadas
designadamentecomexternalidadesde rede.Tambémse relaciona
coma ideiadequeas redesde comunicações sãoessenciaisparao
desenvolvimentoeconómicoesocial.Nestescasos,pode justificar-se
uma intervençãodoEstadoparagarantirqueaofertadeserviçosde
comunicações é amais adequada para a sociedade, beneficiando
todasas pessoas que estão interessadas, independentemente do
localde residênciaoudoseunívelde rendimento.
Alémdisto,a intervençãoestataltambémsepode justificarporrazões
quenada têmavercomaeficiêncianomercado.Nocasodoserviço
universal isso é particularmente evidente com a política de preço
único,uniformeemtodooterritório.Comooscustosvariamsegundo
ascondições locais,principalmenteoscustosdeacesso,éclaroquea
existênciadeumpreçoúnicopode levaràvendadeserviçosdeacesso
aumpreço inferioraoseucustomarginal,nasregiõesdecustoeleva-
do.Opreçoúnico,emprincípio, resultadeumamédiadoscustosdas
diferentes regiões,eprocurando-sequesejaacessível, levarácerta-
mentearesultadosdessetipo, ineficientespordefinição.Assim,uma
políticadeserviçouniversalacabaporserprincipalmenteumapolítica
10
JoãoConfraria
|
UniversidadeCatólicaPortuguesa, Faculdade deCiênciasEconómicas eEmpresariais
/
LuísOliveira
1
|
EngenheiroElectrotécnico
Serviço universal
O
desenvolvimentodas redesde comunicaçõesemPortugal teve
momentosdiferentesnosúltimos150anos.Assistimosaodesen-
volvimento do serviço postal assegurando uma presença regular
em todoo território,no seuauge,noúltimoquarteldo séculoXX.O
iníciodo século XXImarcoua sua transformação, comodeclíniodo
negócio tradicional,as correspondências, substituídaspormeiosde
comunicaçãoelectrónicos,e comodesenvolvimentodos serviçosde
encomendas, tambémpotenciadospelo comércioelectrónicoepelo
processo de globalização.Uma organização, os CTT, que nas duas
últimas décadas do século XX tinha sido bem sucedida em garantir
oacessode todaapopulaçãoportuguesaaos serviçospostais, com
preçosequalidadedeserviçoquecomparavamfavoravelmentecom
osoperadorespostais internacionais,enfrentavanaprimeiradécada
donovomilénioumdesafiodetransformaçãoedesobrevivência,em
mercados de comunicações substancialmente diferentes daqueles
emque sedesenvolvera.As redespostaismantinhama capacidade
deacedera todaapopulaçãomas tinhaque se resolveroproblema
desaberquaisosserviçosdequeapopulaçãocareciaequepoderiam
serfornecidosatravésdelas.Do ladosdastelecomunicações,osanos
1920
e1930 revelaram jáapredominânciadoserviçotelefónicosobre
oserviçotelegráfico.Ocrescimentodoserviçotelefónico,designada-
menteemtermosdeacessos,acelerou-seapartirdosanos1960.Ena
passagemdo séculoatingiuo seuauge,em termosdepenetração,
atingindoumpoucomaisde40%dapopulaçãoportuguesa.Mas já
nessaalturaoutrosserviçoscresciammaisrapidamente,comoasredes
dedistribuiçãodetelevisãoporcaboe,sobretudo,asredeseserviços
de telefoniamóvel,queempoucomaisdeumadécada,desdeo iní-
ciodosanos 1990,atingiram todaapopulaçãoportuguesa.No final
daprimeiradécadado séculoXXI cresciamnosmercadosos serviços
resultantesdediferenteprocessosdeconvergência:entreredesfixase
Edifício daEstação deCorreios deFigueira deCasteloRodrigo inaugurado em 1961, acervo icnográfico daFPC.
LuizGuilhermeG.Machado
|
Licenciado emMuseologia pelaUniversidade doRio de Janeiro ePós-Graduado emHistória pelaUniversidade deLisboa
A criação dos correios
marítimos para o Brasil em 1798
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destetrabalho,agorarevistoecomnovosdocumentosemaisalguns
esclarecimentos, frutode investigaçõesposterioresefectuadasem
arquivosportugueses.
A criaçãodos correiosmarítimosparaoBrasilem 1798, insere-seno
quadrodareformulaçãopostal levadaacabocomaaboliçãodoOfício
de correio-mor do Reino ea sua reintegraçãoàCoroa,através do
decretode 18de Janeiroe respectivoalvaráde 16deMarçode 1797.
Esta iniciativa foi levadaacabopeloministroesecretáriodeEstado
daMarinhaeDomíniosUltramarinos,D.RodrigodeSousaCoutinho.
Regressadoa LisboaemSetembrode 1796,vindodeuma longamis-
sãodiplomáticanacortedeTurim,noreinodaSardenha (1779-1796),
assumiuoseunovocargocomoministrodeEstadoa 11deSetembro
domesmoano. Logoa27domesmomêsexpediuumavisocirculara
todososgovernadoresdas colóniasparaque informassemaquele
ministério,sobreosmeiosquesepoderiamservirparaseestabelecer
umcorreiocomoReinoeosoutrosDomíniosUltramarinos.
Dasrespostasenviadaspelosdiferentesgovernadoresultramarinos
aesteofício, foioplanoapresentadoporseu irmão,D.Franciscode
SousaCoutinho,entãogovernadordoPará,oescolhidocomobase
para o futuro alvará de criação dos correiosmarítimos. A bem da
verdade, este planominuciosamente elaborado
1
era o único con-
cretamenteviáveldentreosoutrosapresentadospelasautoridades
coloniais. Ainda no ano de 1797, querendo aqueleministro imple-
mentarasvárias reformasquetinhaemmente realizaremPortugal
enas suas colónias, relativamenteaosmais variadosaspectos da
administraçãopública, irádestacar-seareformadosserviçospostais
portuguesesdequeforaoprincipalmentor,aquandodaextinçãodo
ofíciodecorreio-mordoReino.Assimsendo,mandouentãopublicar
non°48da
Gazetade Lisboa
de terça-feira,28deNovembrodeste
mesmoanode 1797,oseguinteaviso:
A
criaçãodoscorreiosmarítimosentrePortugaleoBrasilem 1798
éumdosgrandesmarcosdahistóriapostaledafilateliaportu-
guesa.Serásomenteapartirdesteeventoquecomeçarãoaaparecer
osprimeiros carimbospostaisnoBrasil eo seuuso sistemático em
Portugal.Apesardemuitosestudiososconheceremotextocompleto
doalvarádecriaçãodoscorreiosmarítimosde20de Janeirode1798,
poderáseraindaumasurpresaqueomesmotenhasidoacompanha-
doporoutrascinco instruçõesmanuscritasquecomplementaramas
disposiçõescontidasnaquelediploma.
Trata-seda«InstruçãoparaosCorreiosdoReinodomodocomohão
dehaver-secomascartasparaoBrasile Ilhas,depoisdeestabele-
cidososPaquetesMarítimos,esistemadearrecadaçãode fazenda
enquantooCorreioestiverpor contado correio-mor»,«Instrução
paraosCorreiosdaAmérica»–quepoderemosafirmarseroprimeiro
regulamentopostaldoBrasil–»,«InstruçãoparaosComandantes
dos Paquetes»,«Instruçãoparaa remessade Encomendaspelos
PaquetesMarítimos»e, finalmente,«Instruçãoparaas Juntasde
Fazenda dos Estados do Brasil sobre Correios». Todas elas estão
datadas de 26 de Fevereiro de 1798, dia da assinatura formal do
alvarápelopríncipeD. João (futuroD. João VI) edo seu respectivo
registonos livrosdaSecretariadeEstadodaMarinhaeUltramar,à
qualcaberiaaexecuçãodaquela lei.
Estas instruções–cujosoriginaisque trabalhamosseencontramno
ArquivoNacionaldoRiode Janeiro,noCódice67,volume23, folhas
12
a 27 – foram publicadas na Alemanha em 1984, através de um
pequeno livronossoemediçãobilinguedoGrupodeTrabalhoBrasil,
da Federação Alemã de Filatelia, bem como nos EstadosUnidos,
em versão reduzida (sem os anexos das«Instruções»), na Porto-
-
info,n° 71de 1984; ena
Bull’s eyes
,
n° 56domesmoano.Devido
à antiguidade destas publicações, julgamos oportuna a reedição
D.Rodrigo deSousaCoutinho, idealizador da passagem aoEstado da administração dos correios, bem como da criação dos correiosmarítimos para oBrasil.
36
A criação dos correios marítimos para o Brasil
em 1798
Luiz Guilherme G. Machado
68
Esse facto trouxe,comoconsequência,umamudançageneralizada
daspessoasedas instituiçõesparaessenovoambientedetrabalho.
O
Google
conseguiuconquistarumagrandeaudiência, roubandoàs
bibliotecasgrandepartedosseusutilizadores.Asua interfaceamigá-
veleoseunotável
ranking
de resultadosdepesquisaconferiram-lhe
imensapopularidade.Nasbibliotecas,atéhábempoucotempo,tudo
eramaishermético,osutilizadoresconfrontavam-secomuma interfa-
cedepesquisamaisdifícile listagens intermináveisderesultadossem
qualquerrelaçãoentresiesemaparenteorganização.Paraestancar
aperdadeutilizadoresepodercompetircomo
Google
,
ossistemasde
informaçãoprocurarammelhoraras suas interfaceseocuparo seu
próprioespaçonessenovoambiente.O
Google
ébom,mas superfi-
cialmenteeficaz.Mas,háqueaproveitara sua liçãoe trazeroque
tem de bom para osnossos serviços.As interfaces tornam-semais
interactivasedisponibilizamnovas funcionalidadesparaosutiliza-
dorespoderem interagircomaaplicaçãoepartilharoconhecimento
dentrodassuas redessociais.
Háumreconhecimentogeneralizadodovalorda informaçãoporparte
dasorganizações,quecomeçama investirem ferramentasque lhes
permitemumtratamentoestruturadoenormalizadodosdados.Esta
opção representaum investimento inicialsignificativoemformação,
porqueéprecisoaaquisiçãodenovascompetências.Masesteesforço
inicialequivale,nomédioe longoprazo,auma segurançaeauma
economiaquepodem ser significativas.Háumamaior confiançano
trabalho realizado,porquesãoseguidas recomendaçõesdeserviços
1.
Introdução
A Fundação Portuguesa das Comunicações tem à sua guarda um
importantepatrimóniodocumentalnaáreadascomunicaçõesefaz
partedasuamissãopreservá-loedivulgá-lo.Entreoutrasactividades,
apoiaa investigaçãohistóricaesócio-económicadosectore«porque
entendeadivulgaçãodahistóriadascomunicaçõescomoumaactivi-
dadeviva,aFundaçãodáparticularênfaseàsnovastecnologiaseao
seucontributoparaodesenvolvimentoeconómicoesocialdopaís»
1
.
Para assegurar o cumprimento desse objectivo, está em curso no
CentrodeDocumentaçãoeInformaçãodaFPCumprojectodemoder-
nizaçãoquevisamelhorarascondiçõesdeacessoaessepatrimónio.
Acustódiadedocumentosúnicosefundamentaisparaahistóriadas
comunicações responsabilizaa FPCperanteo interessepúblico real
epotencial,epor issosepensounumsistemaquedisponibilizassea
informaçãonumsuportequefosse imediatamenteacessívelatodos
no localouvia
web
.
Opatrimónio culturalestá,em todaaparte,a ser transferidopara
novos suportesdigitaisaumavelocidadevertiginosaparaa consti-
tuiçãodegrandesbibliotecasdigitais,àsvezesporpressõespolíticas
internacionais,comoéocasodaEuropeana.Estatendênciadetudo
digitalizar,emboraforçadaporrazõesalheiasàsprópriasbibliotecas,
criou condiçõesparaum clima tecnologicamente favorávelaoapa-
recimentodenovassoluções,amaiorpartedelasbaseadasna
web
.
A emergência destas novas ferramentas tornou possível, a baixos
custos,darvisibilidadeaqualquerprojectopessoalouorganizacional.
O acesso à informação
e os novos desafios digitais
na Fundação Portuguesa
das Comunicações
TeresaTeixeira
|
Mestre em estudos da Informação eBibliotecasDigitais
Carruagem damala-posta “à inglesa”.Foi utilizada no transporte de passageiros e correio, carreira deLisboa aoPorto, patrimóniomuseológico daFPC.
68
O acesso à informação e os novos desafios
digitais na Fundação Portuguesa
das Comunicações
Teresa Teixeira