Página 58 - Códice nº6, ano 2009

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enviamumamensagememque alertampara as pressões a que estão
sujeitos,nomeadamente os interrogatórios e as ameaças,mas decla-
rando a sua firme vontade. Anunciam a existência de movimenta-
ções operáriasmais alargadas que deveriam ter início proximamente.
Cabe agora discriminar a quantidade dos presos a bordo do
Louren-
çoMarques
:
eramno total 900,correspondendo 750ao dito«pessoal
menor»,na sua grandemaioria carteiros. Por seremamaior força em
luta,foramsujeitos amaiores constrangimentos pelas autoridadesmili-
tares, inclusive na censura da correspondência que saía do barco,
obrigando-os ao uso de missivas clandestinas. Editam um jornal,
«
O Grevista» (de que se conhece um exemplar de oito de Setembro
de 1917). Na sequência dos interrogatórios são transferidos para o
presídio da Trafaria alguns elementos suspeitos de integrarem um
dos comités de greve.
Chega a notícia das movimentações do operariado que começam a
tomar maior expressão,coma entrada emgreve dos trabalhadores da
construção civil. Começa-se a falar de uma greve geral. É iniciada,
efectivamente,de9para 10de Setembrode 1917.Afectaos transportes
fluviais,os carros eléctricos e algumas linhas ferroviárias.Omovimen-
to citadino praticamente desaparece.Na sequência destes aconteci-
mentos aUniãoOperáriaNacional emite várias notas desmentindoboa-
tos e acusações que mais não eram que tentativas goradas de des-
mobilização.Numdesses comunicados édadaanotíciaque 104empre-
gados telégrafo-postais vão para a frente de batalha e é declarada
amanutenção da greve geral enquanto for mantida amobilização da
classe.
Começam a surgir os primeiros indícios de que situação vai evoluir
favoravelmente.Osprimeiros jornais chegamnodia 12aCaxias semsinais
de censura.AUONemcomunicado de dia 11 revelaque reuniu comuma
comissão das Associações Comerciais e dos empregados telégrafo-
-
postais tendo chegado a uma plataforma de entendimento a que só
de anteriores ocupantes que a luz do dia vai permitindo decifrar. São,
geralmente,deoutros trabalhadores grevistas:da construção civil,mili-
tares insurrectos,operários,populares presos emMaio domesmo ano
por assaltos a armazéns de víveres.
A chefe da estação telégrafo-postal de Caxias,Maria das Dores Ribei-
ro, fornece as primeiras informações sobre o estado da greve e põe-
-
se à disposição dos colegas presos para o que for necessário. Rece-
bem-se as primeiras visitas de familiares. A segunda noite já foi
mais confortável porque,entretanto,os presos foramdistribuídos por
celas commelhores condições.
E, assim, entre o dia 5 de Setembro e o dia 12 do mesmo mês a prisão
foi decorrendo comos presos a lutarempela ocupação do tempo com
tarefas básicas como a preparação das refeições ou a lavagem da
roupa e higiene pessoal. A ocupação intelectual não foi descurada:
inventamum sistema de posta prisional, com carimbo próprio,que os
mantém constantemente em comunicação com o exterior, promo-
vem sessões de canto e poesia e, acima de tudo, enviammensagens
de incentivo aos seus colegas presos no
Lourenço Marques
demons-
trativas da firmeza da sua atitude e da confiança na vitória. As visitas
trazem notícias animadoras de cada vez maior adesão ao movimen-
to (na zona Centro Coimbra,Figueira da Foz,Aveiro eViseu aderemem
peso) e demanifestos de distribuição pública elaborados pelos vários
comités degreveque são lidos avidamentepor todos.Tambémsão rece-
bidas visitas de altos funcionários da confiança daAdministração e do
Governo na tentativa vã de os dissuadir. Levam como resposta decla-
rações escritas e assinadas por todos em que se reitera a afirmação
da sua solidariedade.
No dia 6 chega a notícia, por telefone, que António Maria da Silva, o
administrador-geral,vendo que tema generalidade do pessoal preso
resolve pedir uma reunião do Conselho deMinistros a ter lugar no dia
7
de Setembro. Nesse mesmo dia os presos do
Lourenço Marques
Jornal «O Grevista», executado e editado a bordo da corveta «Lourenço Marques», acervo histórico da FPC.