Página 42 - Códice nº6, ano 2009

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anos seguintes.NaGuiné ainda circulavamem 1915 selos de 1902-1905
comas efígies de D. Luís e D. Carlos. O primeiro selo editado no regime
republicano surgiu só em 1912, da autoria do artista Constantino de
Sobral Fernandes, sem cores e ostentando a figura mitológica de
Ceres emalegoria às fainas agrícolas. Esta emissão republicanamar-
couaevoluçãodo seloemPortugal,quepassoua sermais sóbrioeenca-
rado como uma pequena obra de arte
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.
Quanto à imprensa, o novo regime viu florescer novas edições jorna-
lísticas com tiragens relativamente significativas,sobretudo nos gran-
desmeios urbanos,até porque a grandemaioria da população era na
altura analfabeta. O mais famoso jornal fundado depois do 5 de
Outubro foi odiário
República
,
cujoprimeironúmero saiuem15 de Janei-
ro de 1911. Foi seu director um prestigiado político republicano, Antó-
nio José de Almeida, que viria a ser presidente da República entre
1919
e 1922. Durante o tempo em que ocupou este alto cargo público
foi substituído na direcção do jornal por António Granjo,o qual have-
ria de ser depois primeiro-ministro,comum triste fimna confusa revol-
ta de 19 de Outubro de 1921, dia em que foi assassinado com outros
líderes da República estabelecida em5 de Outubro de 1910. O influen-
te órgão republicano,que tinha como grandes rivais o
Século
,
fundado
em 1881 por Magalhães Lima,e o
Diário de Notícias
,
criado em 1864 por
Eduardo Coelho eTomás Quintino Antunes,passou por fases de gran-
de dificuldade financeira, tendo suspendido a sua publicação duran-
te alguns meses, entre Outubro de 1918 e Março de 1919.
Depois da implantação do regime republicano, vários jornais e revis-
tas tiveram títulos que aludiamà República,alguns deles comefémera
existência.Mencione-se,por exemplo,o quinzenário
República Nova
,
fundado em Lisboa em 1919,editado e dirigido por Manuel Pedro Car-
doso, e o semanário homónimo do Porto, criado em 1934, dirigido por
António Leitão Cordeiro, com o apoio do Estado Novo. Já antes da
República seria proclamada em todo o País pelo telégrafo. E como
rematedautilizaçãodo telégrafoapós os esfusiantes dias de luta regis-
te-se que no dia 6 de Outubro Eduardo Schwalbach enviou de Lisboa
um telegrama para a
Gazeta de Notícias
do Rio de Janeiro dizendo:
«
Ao cabo de longos e porfiados esforços,osmonárquicos acabamde
implantar a República em Portugal.»
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O comboio não foi usado de forma sistemática e planificada na região
de Lisboa para transporte de tropas, sobretudo as linhas férreas Sin-
tra-Lisboa (Rossio) e Cascais-Lisboa (Cais do Sodré). Esta de resto foi
cortadapelo tenente FerreiraDinis:«Porque pelos comboios entreCas-
cais e Cais do Sodré poderia entrar algum factor que fosse prejudicar
a República, tomei a iniciativa, como chefe do movimento revolucio-
nário nesta região, de embargar a circulação dos comboios entre
Algés e o Cais do Sodré, intimação que foi feita ao chefe da estação.
Esta intimação foi cumprida.»
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A linha foi completamente restabe-
lecida apenas no dia 8 de Outubro.
Nos correios a normalização na passagementre os dois regimes deu-
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se com uma certa naturalidade. Elementos republicanos e da Car-
bonária já lá trabalhavamantes da eclosão da revolução e alguns par-
ticiparamactivamente nos acontecimentos dos dias 4 e 5 de Outubro.
Não foramretiradas domercadoas emissões então emcirculação,mas
nos selos correntes foi aposta a palavra «República», ficando em
sobrecarga sobre as efígies dos últimos reis de Portugal.
As principais emissões comsobrecarga foramos selos emitidos em1910
com a efígie de D. Manuel II e selos de 1898 evocando o Centenário
da Índia que circulavamem 1911,ano emque se elegia o primeiro pre-
sidente da República. A alteração não se verificou apenas no Conti-
nente, pois em 1911 também circularam em Angola selos de 1898-
-1903
do reinado de D. Carlos (estes também em Moçambique e na
Índia),e em 1912 selos coma efígie de D.Manuel II,continuando pelos
Selos da emissão D. Manuel II, com sobrecarga «República», 1910.