Página 34 - Códice nº6, ano 2009

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artilharia as forças republicanas de Machado Santos instaladas na
Rotunda. Mas a sua acção isolada não surtiu efeito – para que ela
pudesse ser eficaz, teria de ser concertada com o avanço das forças
de infantaria que, num amplo movimento envolvente, cercassem os
revoltosos, ou coma cavalaria que carregasse pela Avenida da Liber-
dade e investisse as improvisadas barricadas erguidas na Rotunda.
Averdadeéqueas forçasmonárquicas eramnaalturaemnúmero supe-
rior, calculando-se que pudessem exceder os 7000 homens, sufi-
cientes para bater as escassas centenas de partidários republicanos
acampados sob o comando de Machado Santos.
Os regimentos estacionados no Rossio, em completa inactividade,
ficaram ainda mais desmotivados quando circulou o boato que os
marinheiros dos navios de guerra revoltados estavamprestes adesem-
barcar. Removido o perigo que podia constituir umavanço coordena-
do das forçasmonárquicas do Rossio,outra ameaça subsistia:a força
concentrada junto do Paço das Necessidades, ali colocada para pro-
teger o rei,mas que poderia atacar a Rotunda pelo lado das Amorei-
ras. Só que o mesmo clima de apatia e desmoralização acentuara-se
com a fuga de D. Manuel com destino incerto (soube-se depois que
se dirigiu à Ericeira para embarcar no iate
Amélia
rumo ao exílio) e
esse contingente de reserva desmobilizou.
Outra força importante daMonarquia eraaGuardaMunicipal,coman-
dada por oficiais de confiança, que chegou a investir o reduto de
Machado Santos, mas tudo não passou de uma fruste e desconexa
tentativa. Por outro lado, parte das forças da Guarda estava então
empenhada numa rija luta em Alcântara contra o corpo de mari-
nheiros doquartel queali se situava.Mas tambémaqui os republicanos
levaramamelhor,apesar de estarememminoria. O comandomonár-
quico contava na zona comos regimentos de Beléme da Ajuda, cons-
tituídos por infantaria e cavalaria, mas não foi possível vencer os
O confronto militar
A mais expressiva acção militar foi conduzida pelo comissário naval
Machado Santos, que na noite de 3 de Outubro dirigiu-se com um
pequeno grupo de homens ao quartel do regimento de Infantaria 16,
onde abateramo comandante que tentara resistir. Sublevada a guar-
nição, dali seguiram com parte das tropas para o quartel do regi-
mento de Artilharia 1, onde obtiveram canhões e mais homens, ins-
talando-se o improvisado contingente militar na Rotunda
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.
O dia seguinte foi decisivo,commomentos dramáticos:alguns oficiais
inicialmente coniventes desertaram, arrastando consigo vários sol-
dados, o que diminuiu o número de combatentes na Rotunda
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.
Um
paradoxal ajuntamento foi-se operando no acampamento revolto-
so,coma saídade soldados e coma chegadade civis exaltados,se bem
que muitos deles não possuíssem qualquer arma.
E se o postomais elevado entre os oficiais republicanos era o de capi-
tão,entreos chefesmilitaresmonárquicos estavammuitos oficiais supe-
riores, sob o comando do general Rafael Gorjão. Note-se que entre os
oficiaismonárquicos estavamaqueles que se haviamdistinguido com
bravuranas campanhas africanas,sobretudoos que tinhamcombatido
emMoçambique,mas eles não foramvistos à excepção de Paiva Cou-
ceiro,umdos oficiaismais conhecidos pelas suas façanhas emÁfrica
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No Rossio, entre as forças ali estacionadas, encontrava-se o Regi-
mento de Infantaria 5,vindo do seu quartel naGraça.Umdos seus ofi-
ciais, o tenente Ascensão Valdês, que era republicano filiado na Car-
bonária,registouno seuposterior relatório:«Os oficiais superiores raros
tinham ido à linha de fogo, e essa falta de chefes traduzia-se numa
censura áspera de alguns e quebrantamento de todos.»
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O capitão Paiva Couceiro prestava então serviço no quartel de Que-
luz de onde saiu comquatro baterias a cavalo postando-se no alto da
Penitenciária e,mais tarde,no alto doTorel
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para bater com fogo de
Membros de associação secreta fabricam bombas em Lisboa