Página 1 - Códice nº6, ano 2009

LuizGuilhermeG.Machado
|
L
icenciado emmuseologia pelaUniversidade doRio de Janeiro,Pós-Graduado emHistória pelaUniversidade deLisboa.
Luís Homem e a criação do
ofício de correio-mor do Reino
em 1520
4
dapor Lourenço Lopes
7
,
um comercianteportuguêsestabelecidona
Flandres,queporsuavezerasobrinhodeumoutroToméLopesdeAndra-
de,feitor emAntuérpia e posteriormente feitor da Casa da Índia,
além de embaixador deD.Manuel junto à corte de Brabante
8
,
de
quemo futuro correio-mor serámensageiroquandoda suamissão
naquelacorte,conformeveremosmaisadiante.
A julgarpelaqualificaçãodeLuísHomemcomocomandantedosbom-
bardeiros daquele navio,sem dúvida alguma que poderia ter sido
muitoútilna reconquistadeGoa,mas talnãoaconteceu.Durantea
reorganizaçãodasforçasparaumnovoataqueàquelacidade,Afon-
sodeAlbuquerqueprocurouauxílionasarmadas recentementeche-
gadas de Lisboa.Para além da frota capitaneada porGonçalo de
Sequeira,em que vinha o nosso futuro correio-mor,chegara uma
outracompostaporquatronaussobocomandodeDiogoMendesde
Vasconcelos,que tinhapordestinooportodeMalaca
9
.
NumconselhoreunidoemCochimporAfonsodeAlbuquerque,houve
grandedivergênciadeopiniõesentreoscapitães-moresdasarmadas
eosoutroscomandantesdosnavios– inclusivecomocélebrecircum-
navegador FernãodeMagalhães–quantoàposiçãoa ser tomada,
tantoem relaçãoaoprojectode reconquistadeGoa–defendidapor
Albuquerque–comoemrelaçãoaocumprimentodas instruçõesrégias
no tocanteaosobjectivosdaquelasarmadas
10
.
Ficariacontudoesti-
puladoqueaarmadadeMalaca,comandadaporDiogoMendesde
Vasconcelos,auxiliariaAfonsodeAlbuquerquenaquelaempresa,tendo
ogovernadordaÍndiaprometidoqueoauxiliarianaviagematéMala-
cadepoisdaquelamissão,oquedefactoveioaocorrernoanoseguin-
te,alturaemqueomesmoAfonsodeAlbuquerqueacabariaporcon-
quistartambémaquelaestratégicacidadeasiática
11
.
Quanto à armada comandada porGonçalo de Sequeira – onde se
encontravaonossofuturocorreio-morLuísHomem–oseucomandante,
C
ontarahistóriadoprimeiro correio-mordePortugalé falardos
principaisacontecimentoshistóricosdaqueletempo,nosquaisLuís
Homemparticipoudirectaou indirectamente.
Antesde ter sidonomeadoparaesteofícioem 1520,oprimeiro cor-
reio-mordoReino já tinhadesempenhadooutras importantes fun-
ções,queforamdeterminantesparao reconhecimentodasuacom-
petência.Desconhece-seasuaorigem,masexisteapossibilidadede
eletersidofilhodePedroHomem,quefoiestribeiro-mordeD.Manuel
1
quando ainda era duque de Beja,bem como irmão de Francisco
Homem,queosucedeunocargo jáduranteo reinadodeD.Manuel.
Esse cargo tinhaa funçãodegeriros«moçosdeestribeira»donde
provinham justamenteosmensageirosoficiaisdacasareal.Porvolta
de1512,LuísHomemeracriadodoreiD.Manuel,nãopossuindoporessa
alturaqualqueroutroestatutosocial,massomenteaespecialidade
de«
Bombardeiro
».
2
Defacto,muitoantesdesetornarmensageiro
realpelaEuropaaforaeemespecialnaFlandres,foi tambémsolda-
dono longínquoOriente,ondedesempenhou–aindaque involunta-
riamente–opapeldecorreiodeboasnovasporseencontrarnaÍndia
a25deNovembrode 1510,quandoAfonsodeAlbuquerqueconquis-
toudefinitivamenteacidadedeGoa.
Embarcado na armada comandada pelo capitão-morGonçalo de
Sequeira,compostaporsetenausequeemMarçodesseanode1510
partiradeLisboacomdestinoàÍndiaparaocomérciodasespeciarias
3
,
LuísHomem iráchegaraCananorem8deSetembrodomesmoano
4
,
justamentequandoogovernadorAfonsodeAlbuquerqueseprepa-
ravapara retomaracidadedeGoa,depoisdeumaprimeira tentati-
va frustradadeconquistano iníciodaqueleano.ComoCondestável
debombardeiros,LuísHomem faziaparteda tripulaçãodanau
Fla-
menga
,
pertencenteaomercadorportuguêsToméLopes
5
eaoutros
armadores
6
.
Provavelmenteestaterásidoanauqueforacomanda-
Correio a cavalo, séculoXVI.
Assinatura deLuísHomem.
IsabelVarão
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Licenciada emHistória (UL),Pós-Graduada emCiênciasDocumentais (UL)
A I República e os telégrafo-
-
postais:relatos de duas
greves na primeira pessoa
48
NortondeMatoseem30deJaneirode1917embarcaa1
a
Brigadaacami-
nhodeFrança.
Todoumcortejodemaioresproblemas internoséarrastadopelaade-
sãoàguerra,defendida,emprimeiro lugar,porAfonsoCostaeoseu
PartidoDemocrático.Alémdoacentuardaaltaespeculativadospre-
çostambémseassisteaumavagadedespedimentosgeneralizadapor
faltadematérias-primas,emqueé impostoum regresso forçadode
muitosoperáriosàssuasterrasdeorigem,assiste-seàfugadoscapi-
taisemparticularparaaSuíça,háumacorridaaosbancosque induz
crescentenúmerode falênciasquerno sectorbancárioquerno sec-
torempresariale,finalmente,assituaçõesepidémicaseclodemgras-
sandoa«gripeespanhola»,acélebre«pneumónica»(que,nototal,
farámaisde 100000vítimas)eafebre tifóide.
Oaumentodocustodevidaéestimadonasmaiorescidadesnaordem
dos99%emOutubrode 1917eatingeem Janeirode 1918os 133%.
Peranteesta situação insustentávelaagitaçãodas classes laborio-
sasatingeparoxismos inusitados:assaltosa lojasearmazénsdevíve-
res,tantoemLisboacomonoPorto,bemcomoemcidadesdaprovín-
cia.Omaisconhecidodestesmovimentosdesorganizadoseespontâneos
daspopulaçõesacossadaspelafomedeu-seem19deMaiode1917em
Lisboaeficouconhecidocomoa«Revoluçãodabatata».
Mas,ao ladodestesmovimentosmaisoumenosanárquicos,surgem
formascadavezmaisorganizadase informadasdeexpressãodevon-
tadedos trabalhadores.
Arredadosdarepresentaçãoparlamentarpelas leisdaRepúblicaque
apenas concediamdireitode votoaoshomensmaioresde idade (21
anos),sabendo lereescrever (cercade75%dapopulaçãoportugue-
sanãopossuíaestashabilitaçõesmínimas)ouquefossemchefesde
famíliahámaisdeumano,aostrabalhadores restavaaorganização
autónomaemassociaçõesdeclassemuitasvezesdecarizmutualis-
Temposdifíceis
AIRepública (1910-1926)sempresofreudeumagrande instabilidade
políticaesocialdesdeasua implantaçãoatéàsuaquedaàsmãosdos
militaresem28deMaiode 1926.
Asgrandesesperançasgeradaspelomovimento republicano sobre-
tudonasmassas laboriosasdasduasgrandescidades,LisboaePorto,
quetãoactivamentetinhamparticipadonomovimento inicial,viram-
se paulatinamente goradas por uma sucessão de querelas quase
insanáveis entre os vários partidos e os líderes que partilharam o
podernesteperíodo.Poroutro lado,naszonas rurais,ondeanotícia
demudançade regimechegoupelotelégrafo,aspopulações resisti-
rampassivamenteaumanovasituaçãoquenãocompreendiampor
inteiro,devidoaumanalfabetismodominante,aoconservadorismo
atávicoque lheserapróprioalimentadopela ligaçãoà Igrejaquevia
asua influênciacontestadapelanovaordemdascoisas.
Nestecontextoassumemcadavezmaiorexpressão factoreseconó-
micoscomgranderepercussãosocialcomoaescassezdebensdepri-
meiranecessidade,bensalimentaresemprimeiro lugar.Oaumentodo
custodevidadispara.CésardeOliveira,entreoutros,calculaqueeste
aumentosesituaria,emmédia,naordemdos66%noperíodocom-
preendidoentre 1914e 1917.
As classes laboriosas,nelas compreendidasquerooperariadourba-
noquerruralquerfranjascadavezmaisalargadasdaburguesiaurba-
na,vêem diminuir os seus salários drasticamente faceao custo de
vida.Aaltaespeculativadospreçosprovocadapeloaçambarcamen-
totemumaascensãocontínuaqueculminanoanode1917,comaentra-
dadonossopaísnaGrandeGuerra.
Aentradanaguerraveioprecipitarumasituaçãopróximada ruptu-
ra.Em9deMarçode1916aAlemanhadeclara-nosguerra,em Julhoé
formadooCorpoExpedicionárioPortuguêssobadirecçãodogeneral
Greve telégrafo-postal de 1917: um aspecto da «avenida das baionetas» noTerreiro doPaço, acervo iconográfico daFPC.
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Desdeo iníciodaSegundaGrandeGuerra,o impulsodas comunica-
çõesdemassas influencioudemuitasformasonossoconscienteesub-
consciente.As imagensvisuaisganhamcadavezmaisforçadeexpres-
sãoeatelevisãofazasuaapresentaçãodeumaforma retumbante
namaneiradecomunicar.As imagenssão impressas,pintadas,foto-
grafadaseescritasdeuma formaanimada.
Em paralelo,o desenvolvimento dos sons e damúsica evoluem na
forma,na concepçãoena transmissão,permitindo criarum jogode
sinaiscomunsedesímbolosquesevãorapidamenterelacionando.A
exaltação icónicapropõeumreajustesocialassentenasoportunidades
oferecidas,promovendoescolhasmais inteligentesevariandooseu
poder conformeas solicitaçõesmaterialistase comerciais.A cultura
demassasdáassimosseusprimeirospassos!
Oaparecimentode imagensdefácilretençãomentalcriaumahege-
moniapublicitáriadenova iconografiasocial,sejaassenteemvalo-
res culturais,religiosos ou simplesmentemundanos.A partir deste
momento,os lugaresdeadoraçãopassamdos locaisdecultoreligio-
soparaosde culto consumista,os signosdestanova concepçãode
sociedadesãoencontradosemsupermercados,painéispublicitários,
capasdasrevistase,claro,nastelasdastelevisões.Estes lugaresnão
sãomais que o resultado da criação do homem no seu novomeio
ambiente e têm como principal baluarte a sociedade de consumo
americana (e de certa forma os sectoresmenos conservadores da
inglesa,emboracommuitomenosexpressão).
NosEstadosUnidos,maisparticularmenteemNovaIorque,as influên-
cias da publicidade e das comunicações demassas são extrema-
mente poderosas.Uma panóplia demeios de comunicação opera
continuamente,umsemnúmerodepublicaçõespromovemcadavez
maispessoaseprodutos,cinemaseteatrosdãootudoportudopor
novosprotagonistas.
P
elaprimeiraveznahistória,aarte foiutilizadaparauma instru-
mentalizaçãodeelementosdomundoda«não-arte»,provocando
umamodificação da consciência e reorganizando-a por efeito da
sensibilidade.Os aspectos sociais e culturaismais relevantes que
influenciaramoúltimograndemovimentoartísticodoSéculoXXalu-
diramamovimentosdecorrentesdoaparecimentoda sociedadede
massas,oefeitodoconsumo,a importânciadosucessoedo lucro,a
linguagemcomercial;enfim,aassociaçãodabanalidade redundan-
tedo realcomoprópriomovimentoeaelevadaprovocaçãoestética
domundodosmass-media.
Apopartinovou,criouasuaprópria linguagemeosseusseguidores,
provocou uma inversão interpretativa das formas de considerar a
arte,desmistificouempirismoseenfatizouorealcomofulcrodacria-
tividade e da interpretação.Mesmo na épocamoderna,em que a
maiorpartedosartistasecríticospuseramdepartea teoriadaarte
como representação de uma realidade exterior em favor de uma
expressãosubjectiva…oconteúdoestásempreemprimeiro lugare
afugaà interpretaçãoparececonstituirumacaracterísticaparticu-
lar da expressão artísticamoderna,nomeadamente na expressão
da pintura abstracta que objecta a tentativa de não ter nenhum
conteúdo(umavezquesemconteúdonãopodehaver interpretação).
Apopartmesmo invertendoestepensamento,acabatambémportor-
nar ininterpretávelacriação.Masentãosenemsequercomautilização
deelementossignificantespodemos interpretaraobra,dequeforma
apoderemos interpretar?
Esteproblemapoderáserabordadosoba formadeumconjuntode
breves reflexõessobreoparadigmada interpretação,entreocolec-
tivoeo individual,nacorrenteartísticaqueveioestimular,doponto
devistadapercepção,aformadeencararaartecomoveículo inter-
pretativoda realidade.
Guia para um pensamento pop:
Uma introdução
GonçaloNunesRodrigues
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Docente do ensino superior
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dutosfarmacêuticos,terapiagenéticaedecélulasestaminais,ener-
giasrenováveis,biotecnologia,
displays
derealidadevirtual imersiva,
inteligênciaartificialemuitomais.Umacoisaécerta:atecnologiano
futuro permitirá sobretudo simplificar e optimizar as nossas vidas,
cabendo-nosnaturalmentedarautilidadecorrectaparaaconsolidação
de objectivos comuns,tais como:cuidadosmédicos de excelência,
combateàpobreza,segurançarodoviária,protecçãodomeio-ambien-
te,umaeducaçãoeficaz,acessodemocratizadoaos recursos infor-
máticos,liberdade de expressão,apoio à exploração criativa,pro-
tecçãodaprivacidade,aumentodaesperançamédiadevida,controlo
demográfico,qualidadedevida,alfabetismoeoptimizaçãodosrecur-
sosnaturais.
Odesafioquefoipropostocomacriaçãodeumprimeiromódulodos
FPCFutureLabs,comaassinatura«ExperiênciasvisuaisdeFuturo»,
temoobjectivo imediatodesurpreender,decriarumportaldimensional,
quepormomentospossibiliteumconjuntodeexperiênciasvisuais,onde
oobjectivoérecriaraomáximoasensaçãoderealidadeparaum indi-
víduo,levando-oaadoptara interacçãocomoumadassuasrealidades
temporais.Para isso,essa interacçãoé realizadaemtempo real,com
ousodetécnicasedeequipamentoscomputacionaisqueajudamna
ampliação do sentimento de presença do usuário.Além da com-
preensãodoAmbienteVirtualcomosimulaçãoda realidadeatravés
da tecnologia,tambémseestendeaumaapreensãodeumuniver-
sonão real,umuniversode íconesesímbolos.
Os FPC Future Labs – ExperiênciasVisuaisde Futuro comportamum
ambienteexpositivomodulareevolutivo,queconsideraamplasexpe-
riênciasvisuaise interactivas,permitindoodesenvolvimento,aplica-
çãoemostrade inovaçõestecnológicas.Essas inovaçõesestãopaten-
tesnasseguintestecnologias:visãocomputacional,holografismo,este-
reoscopiaactiva/passiva,
3
d scanning
,
realidadeaumentada,reali-
N
inguémpodeprevero futuro...exactamenteporqueumacon-
tecimentodeamanhãé sempre influenciadoporumaconteci-
mentodehojeeporessemotivocompostodevariáveis incógnitas.No
entanto,háargumentosrazoáveisquepodemserconsideradoscom
basenosavançose tendênciasda tecnologianopassado.
Porexemplo,érazoávelpreverquevãocontinuaraexistirtecnologias
maispotentes,maisbaratasecomcapacidadeparaumamaiorrapi-
dezdecomunicação.Entreasdiversasaplicabilidadeseusosdestas
tecnologias,enquadram-se vários campos científicos comoaenge-
nharia (mecânica,civil,automóveleelectrónica),amedicina (diag-
nósticos,simulações cirúrgicas,estudos em anatomia),as ciências
básicas(astronomia,astrofísica,biologiaequímica)emesmooentre-
tenimento (jogos,visualizaçõesfotorealísticasefilmes interactivos).
SendoaInformaçãoumadaspalavras-chavedomomentoactualda
História,considera-sequeahumanidade caminhaparaumaoutra
idade,adoConhecimento,dadooelevadonúmerodemudançasque
temvindoaprovocar,bemcomoasconsequênciasquetransportaa
nívelsocial,económico,cultural,epolítico.
ÉatransformaçãodaInformaçãosóporsiemconhecimento,sempre
aliada profundamente às inovações tecnológicas,que dará novas
competênciasenovascapacidades.
A concepção futurista domundo das comunicações tem vindo a
desenvolvernasociedadeuma incessantebuscapela inovação,pela
actualidadeepelaadequaçãoàsnovas regras sociaisporesta rea-
lidadeditadas.Avontadede cadaumem«não sedeixar ficarpara
trás» obriga a um esforço individual,em estar permanentemente
conhecedordessasevoluçõese inovações.
Irão surgir seguramentedezenas senão centenasdedomíniosque
vão continuaraavançar tecnologicamente,aoníveldenovos con-
teúdos,suporteseplataformasdecomunicação;nanotecnologia,pro-
Exposição Future Labs
ExperiênciasVisuais de Futuro
GonçaloNunesRodrigues
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Comissário da exposição FPC Future Labs
Imagem iconográfica daRepública.
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republicanos,quegritavamaplenospulmõespelasruas«VivaaRepú-
blica!»–enãoeracertamenteumaalusãoàRepública francesa.
Oanode 1906foidemauagoiroparaaMonarquia:emAbriltomava
posseoefémeroe instávelgoverno regeneradordeHintzeRibeiro
6
,
paranomêsseguintese revoltaremasguarniçõesdedoisnaviosde
guerrasurtosnoTejo:oscruzadores
D.Carlos
e
VascodaGama
7
.
Depois
JoãoFrancoformounovogoverno,que iriaderivarparaumcontestado
processoditatorial,enquantoa rainhaD.Améliaerahumilhadacom
umagrandevaianoCampoPequeno
8
.
Reflexosevidentesda situa-
ção:naseleiçõesdeAgosto,forameleitosquatrodeputados repu-
blicanosparaoParlamento,ondepoucodepoisrebentariao«escân-
dalodosadiantamentos»àcasarealparacobrirasdívidasqueentre-
tanto se tinham acumulado,devido aos gastos exagerados deD.
Carlosedosseus familiares.
O ano seguinte não foimelhor:João Franco perdeu o apoio parla-
mentar,e logodissolveuoParlamentosemmarcaçãodenovaselei-
ções,tendoentradoem«ditaduraadministrativa».Rebentamgre-
vesportodooPaís,queraonívelestudantil,apartirdeCoimbra,quer
aoníveldooperariadodescontente.Osrepublicanosaproveitameste
climaque lhesera favorávele levama cabo comíciosdeNorteaSul,
enquantocertosnúcleosfavoráveisàRepúblicaseorganizammelhor:
Magalhães Lima é eleito grão-mestre doGrandeOriente Lusitano
UnidoeLuzdeAlmeidareorganizaaCarbonáriaPortuguesa,enquan-
tomonárquicosprogressistasdissidentes formamcom republicanos
um comité revolucionário em que participam o visconde de Ribeira
Brava,JosédeAlpoim,AfonsoCostaeAlexandreBraga
9
.
Emais:dois ilustres pares do Reino (Anselmo Braamcamp Freire e
AugustoJosédaCunha,ex-ministro,presidentedaCâmaradosPares
e antigo perceptor deD.Carlos) dirigem-se,com a premeditada e
desejadavisibilidadedesseacto,aoCentroRepublicano situadono
A
implantaçãodaRepúblicaemPortugal,em5deOutubrode1910,
foiapenaso culminardeum lento,sinuosoepor vezesambí-
guo processo de vários anos
1
.
Esse processo pode ser detectado
desdeprincípiosdo séculoXX,embora certos factosbem conheci-
dosdatemdo século XIX,avultandodeentreelesa revolta repu-
blicanade31de Janeirode 1891,acicatadae lideradapor JoãoCha-
gas,SampaioBruno,AlvesdaVeigaeSantosCardoso
2
.
Aindaemfinais
doséculoXIXHeliodoroSalgado impulsionouasactividadesdaCar-
bonária Lusitana
3
,
uma organização paralela daMaçonaria,de
tiposecretoebelicoso,adversaaoclericalismo,equeviriaadesem-
penhar um papel crucial na implantação da República.Note-se
entretantoqueoséculoterminariacomalgumafrustraçãoparaos
opositoresdaMonarquia,poisnaseleiçõesdeNovembrode 1900
oPartidoRepublicano,fundadoem1876,não logrouelegernenhum
deputado.
Em1901,anodamorteda rainhaVictoriadaGrã-Bretanhaedasubi-
daaotronodeEduardoVII (quetrêsanosdepoisvisitariaPortugale
dariao seunomeao famosoparque lisboeta),João Franco
4
deixao
PartidoRegeneradoreconstituioCentroRegeneradorLiberal.Naselei-
çõesdeOutubro,osrepublicanosnãoconseguiramelegerdeputados,
como já tinhaocorridonoanoanterior.
AoposiçãoàMonarquiafoicrescendonosmeiosurbanoseacadémicos,
com greves e conspirações,mas sem qualquer reflexo no processo
eleitoral:a verdade é que nas eleições de Junho de 1904 e nas de
Fevereirode1905osrepublicanosnãoelegemqualquerdeputado.E,
maisdoquenomovimento republicano,eranopróprio seiodas for-
çasmonárquicasque iam surgindoosmaisproeminentescontesta-
tários:é o casodadissidênciaprogressistade JosédeAlpoim,pre-
textandoa«questãodostabacos»
5
.
EmOutubrode1905avisitado
presidente francês Émile Loubeta Portugal foi aproveitada pelos
Comunicabilidades e empatias
no advento da República
LuísManuel deAraújo
|
F
aculdade deLetras daUniversidade deLisboa
ANO XII
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SÉRIE II
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2009
|
ANUAL
|
NÚMERO SEIS
presidente do conselho de administração
JOSÉ LUÍS C. ALMEIDA MOTA
director
ISABEL SANTIAGO
coordenação editorial
RITA SEABRA
colaboraram neste número
GONÇALO NUNES RODRIGUES
ISABEL VARÃO
LUÍS MANUEL DE ARAÚJO
LUIZ GUILHERME G. MACHADO
direcção gráfica
LUÍS SOARES, PAULO FRÓIS
paginação
DUPLADESIGN, LDA
fotografia
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editor
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DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
depósito legal
125 540/98
issn
0874-2901
tiragem
1500
EXEMPLARES
Códice é uma publicação registada sob o número 122 468
capa:
Imagem iconográfica da República,
acervo iconográfico da FPC
verso da contra-capa:
Emissão de selos «Ceres»,
primeira emissão filatélica da República,
desenho de Constantino Fernandes, 1912,
acervo filatélico da FPC.
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Luís Homem e a criação do ofício de correio-mor
do Reino em 1520
Luiz Guilherme G. Machado
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Comunicabilidades e empatias no advento
da República
Luís Manuel de Araújo
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A I República e os telégrafo-postais: relatos
de duas greves na primeira pessoa
Isabel Varão
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Exposição Future Labs
Experiências Visuais de Futuro
Gonçalo Nunes Rodrigues
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Guia para um pensamento pop:
Uma introdução
Gonçalo Nunes Rodrigues