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Carlos,estando ainda emBruxelas,apressou-se em tomar o título real
espanhol em Março desse mesmo ano de 1516, para assim poder
negociar emmelhores condições a paz com Francisco I, rei de França,
que viria a ser o seu principal rival no cenário europeu daquele tempo.
Tal atitude causou algumdescontentamento e apreensão em Espa-
nha, resultantes da expectativa sempre adiada da sua vinda para
tomar posse e residir naquele reino, facto que só viria a ocorrer em 7
de Fevereiro de 1518. Nesse clima de instabilidade e incerteza, o rei
D. Manuel procurará saber através dos seus servidores na Flandres e
em Castela de todas as notícias relacionadas com o desenrolar dos
acontecimentos, de forma a levar a bom termo a sua política euro-
peia
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justamente num momento em que o seu império colonial se
encontrava emgrande expansão noutras partes domundo. E é neste
cenário que surgirá novamente Luís Homemcomo elo de ligação entre
a corte portuguesa e os seus correspondentes no estrangeiro.
EmBruxelas, os contactos estabelecidos por Tomé Lopes como jovem
rei espanhol e os seus mais próximos conselheiros, nomeadamente
monsenhor de Chièvres, Guilherme de Croy, o grão chanceler de Bor-
gonha, Jean Le Sauvage, e em especial um dos secretários daquele
monarca, o português Cristóvão Barroso
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,
revelar-se-ão de uma
enorme importância naquela conjuntura. A confirmar este facto,
veja-se a carta de umdos correspondentes de D.Manuel na Flandres,
Rui Fernandes de Almada, onde se afirma que o enviado português,
Tomé Lopes, «tem grande crédito com estes que governam, ajudou
aqui a muitos, é grande amigo do Conde Dom Fernando
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e assim de
todos»
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.
Num primeiro momento, foi intenção de D. Manuel que o seu envia-
do à corte de Brabante retornasse o mais depressa possível a Portu-
gal, depois de prestar as condolências ao novo rei pela morte do seu
avô e de saber quando seria sua intenção de vir a Castela tomar
posse do seu novo reino. Ocorreu, porém, que o secretário do sobe-
rano espanhol comunicasse a Tomé Lopes que o novo monarca teria
também muito gosto com os casamentos em perspectiva, notícia
esta que o enviado português transmitiu imediatamente aD.Manuel,
através do futuro correio-mor Luís Homem, que rapidamente partiu
para Portugal com as importantes novidades
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.
Para uma maior diligência na sua viagem Luís Homem irá aproveitar
a estrutura montada por Francisco de Taxis, mestre dos correios da
corte do imperador Maximiliano e o primeiro representante de uma
família que se transformará em sinónimo de «correios» por toda a
Europa
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.
Tendo sido encarregue pelo imperador de criar uma rede de
ligaçãopostal dentrodas fronteiras do vasto impériodaCasados Habs-
burgos, Francisco deTaxis havia já organizado por volta de 1516 várias
carreiras de postas centralizadas emBruxelas,donde partiamcorreios
comalguma regularidade paraViena, Roma eMadrid. Essas carreiras
consistiamnuma série de cavalariças dispostas ao longo do caminho
(
postas), onde ummestre chamado «de Posta» tinha como obriga-
ção ter sempre pronto um certo número de cavalos para serem alu-
gados aos correios ou a viajantes, os quais, por sua vez, eram reve-
zados e substituídos nas postas seguintes. Luís Homem seguirá jus-
tamente pela carreira de Madrid, tendo percorrido sessenta e oito
mudas de postas entreBruxelas eBurgos,ao custodeumcruzado cada
uma. Em Burgos adquiriu um cavalo por quinze cruzados, seguindo
então até Almeirim, onde se encontrava a corte portuguesa.
Luís Homem gastou ao todo no caminho – com mais cinco cruzados
paraa despesa da sua pessoa – oitenta e oito cruzados,dos quais uma
parte lhe tinha adiantado Tomé Lopes em Bruxelas. Esta quantia foi
mandada saldar por carta régia de 11 de Abril de 1516, pela qual
D. Manuel ordenou a Silvestre Nunes, então feitor na Flandres, que
pagasse a ambos o que lhes era devido
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.
O banqueiro e mercador Jacob Fugger.