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O olhar de estrangeiros sobre a sociedade portuguesa em diversas
épocas é, igualmente, um aspecto que mereceu a atenção dos res-
ponsáveis daBibliotecaao longodo tempo.Assim,podemos encontrar
obras tão interessantes como
A formosa Lusitânia
(1877),
de Lady Jack-
son, comprefácio e notas de Camilo Castelo Branco,
Voyage en Portu-
gal et Espagne
(1776),
de RichardTwiss,ou
Travels in Portugal
(1795),
de
James Murphy.
Quanto a obras de referência, além de variadas enciclopédias e dicio-
nários, devemos destacar a riqueza do acervo em dicionários geográ-
ficos e corográficos relativos ao território nacional, não esquecendo o
Portugal Antigo e Moderno
(1873),
de Pinho Leal, o
Diccionario Biblio-
graphico Portuguez
(1858-1958),
de Inocêncio Francisco da Silva,o
Elu-
cidário
(1798/99-1895),
deSousaViterbo,eaobraemdezoito tomos
His-
tória dos estabelecimentos scientíficos, litterarios e artísticos de Por-
tugal
(1871),
de José Silvestre Ribeiro.
Aspublicaçõesperiódicasestão tambémmuitobemrepresentadas,par-
ticularmente as do século XIX e início do século XX, como as revistas
O
Panorama
(1837-1858),
OOccidente
(1878-1915),
Ilustração Portuguesa
e Brasileira
(1884-1891)
e
Ilustração Portuguesa
(1906-1924).
Parafinalizar,refira-seaexistênciade trêsverdadeiraspérolasdesteacer-
vo: a obra
Tôjos e rosmaninhos: contos da serra
,
de Alfredo Keil, de que
existemdois exemplaresmas apenas umcomaencadernaçãooriginal,
publicada em 1907 em Lisboa, e que vale acima de tudo pelas magnífi-
cas ilustrações da sua autoria, comuma poesia dedicada à diligência e
ondequer estaquer umaestaçãodemudanacarreiraTomar-Sertãsão
profusamentee realisticamente retratadasnoseupercurso (nãoesque-
cendo o autor a presença das caixas de correio nas várias situações); a
HistóriaNatural Illustrada
,
deJúliodeMatos,publicadanoPortopelaLivra-
ria Universal em 1880 e contendo a descrição física e comportamental
demuitas dezenas deespécies animais como respectivodesenho cien-
dadeiros monumentos de síntese histórica, podemos ainda citar pelo
seu valor documental, as
Memórias da Academia Real das Sciências
(1797-1825),
sobre osmais diversos temas desde ciências (trabalhos de
engenhariahidráulica,meteorologia,ciências naturais) ahistória,lite-
raturaeoutros ouainda,pelo seu contributo,aedição críticade Lindley
Cintra da
Crónica Geral de Espanha de 1344
(
texto português), dada à
estampaemLisboapela ImprensaNacional em1951,eque seguiuocódi-
ce iluminado conservado justamente na Academia de Ciências.
As ciências auxiliares da história, como a arqueologia, contêm exem-
plosdegrandevalor bibliográficocomoaobracompletadopioneiroEstá-
ciodaVeiga,dequedestacoasobras
Antiguidades deMafra
(1879),
Anti-
guidades Monumentaes do Algarve: tempos prehistoricos
(1886),
ou
A
tabula de bronze de Aljustrel: lida, deduzida e commentada em 1876
(1880),
primeira notícia da existência das famosas tábuas de Vipasca.
A juntar a estas obras de grande valor documental, podemos falar
aindade sínteses comoa
História do Exército Português
,
daautoriado
general Ferreira Martins, edição muito cuidada e com restauro recen-
te,publicadapela InquéritoemLisboaem1945,ouaindadeum livrobas-
tante raro da autoria de Fernando Emygdio da Silva,
As greves
,
publi-
cado em 1912 pela Imprensa da Universidade de Coimbra, que aborda
de formaexaustivaasprimeirasmanifestaçõesgrevistasedeassociação
de trabalhadores no nosso país.
A lista jávai longamas,entremuitasoutrasescolhaspossíveis,nãoposso
deixar de referir a rica colecção de memórias que integra as do conde
do Lavradio,domarquês de FronteiraeAlorna,do condedeMafrabem
comoas damarquezadeRioMaior coligidas por BrancadeGontaCola-
ço, importantes dada a proximidade destas personalidades ao poder
no final damonarquia e à abundância de relatos contemporâneos de
alguns dos mais importantes acontecimentos entre os finais do sécu-
lo XVIII e a implantação da República.