Página 1 - Códice nº5, ano 2008

Conselheiro e director dosTelégrafos –GuilherminoAugusto deBarros, acervo iconográfico daFPC.
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então chamadoMuseuPostalque,comoacima referimos,erapre-
dominantementede telegrafia,ouseja,de telecomunicações.
Arelaçãoentreabiblioteca (queaotempoenglobavatambémdocu-
mentaçãodearquivo)eomuseuapontava jáum interessedidáctico
ecientíficoparaosectordascomunicações.Porém,avertenteromân-
ticadaaltura,emboracriativa,começouacederaoutraspreocupa-
ções.Em 1886,surgiu a questão do«mapa cor-de-rosa» e a crise
relacionadae,em 1890,o«ultimato inglês».
Deoraemdiante,os investimentospúblicosnão imediatamenteren-
táveis iriamficarcondicionados.Assim,omuseudaactividadedeCor-
reiosTelégrafoseFaróispermaneceusemvisibilidadedurantedéca-
das,oque justificaráa faltadedocumentação técnica,como catá-
logos,desenhos,fotografias,planose relatóriosquedemonstrema
evoluçãodomuseuentreosanos80doséculoXIXeosanos30dosécu-
loXX.
2.
Refundação
Apóso longoperíododefaltadevisibilidade,GodofredoFerreira
4
veio
em1934relançara ideiadoMuseudosCTT,chegandoasuasugestão
ao correio-mor Luís deAlbuquerque Couto dos Santos.A sugestão
foibemacolhida.OSr.correio-mordespachoufavoravelmenteapro-
posta,nomeandoochefededivisãoGodofredoFerreirapara traba-
lharnosentidode«encarar-serapidamenteaefectivaçãodacriação
[
quena realidade foiuma recriaçãoou refundação]domuseu»
5
.
Nãoobstantea corrente favorávelà criaçãodemuseusno iníciodo
EstadoNovo,juntamentecomaacçãodeGodofredoFerreira,oMuseu
dosCTTsóvoltouaterexistênciaoficial,nãoem1934conformeas indi-
caçõesdoSr.correio-mor,massimem1947.Entretanto,GodofredoFer-
reira iniciouumaacção tãourgentequantomeritória,de recolhade
documentaçãohistórica.Em1947,apardarefundaçãodomuseu,ins-
1.
A criação
Em1878,osCorreiosTelégrafoseFaróisderam inícioaoprojectodecria-
çãodeummuseu,talcomosedepreendedo relatóriodeGuilhermi-
noAugustodeBarros:«QuantoàBibliotecaeMuseuPostalprocurarei
ircoligindoquanto lherespeitaeforpossívelobter,compenetrando-
me do pensamento civilizador que inspira tal lembrança» (Barros,
1878)
1
.
Porém,esteprojectodeMuseuPostal,assimeradesignado,
tratava também de telecomunicações e sinalização costeira
2
.
Este
momentodo iníciodeummuseu,em 1878,foiumaacçãomeritória,
preconizada peloministro das«Obras Publicas,Comercio e Indus-
tria» JoãoGuarbertodeBarros,em 1877.Classificamos,porém,este
primeiroactode«cariz romântico»emconformidadecomamenta-
lidade da época e que se terá extinguido nas décadas seguintes.
AssimseexplicaachegadaaoséculoXXe inclusivamenteoanode1934
semdocumentaçãorelevantequeatesteaevoluçãodomuseu,excep-
tuando ligeirasnotasdequesãoexemploocapítulo«Melhoramen-
toseemprehendimentos»doRelatórioPostalde 1877-1878.
Estemuseu foi inicialmente dotado de um primeiro núcleo de 30
peças
3
quesepresumeseremnaquasetotalidadedetelecomunica-
ções.Com efeito,analisando os registos antigos,começando pelo
númeroumeatéao trigésimo,verificamosquedas trintapeças ini-
ciais,vinteeduassãodetelegrafiaeléctrica.Foireservadoparaestas
peçasumpequenomóvel,oquedenotaum interessedotipo«gabi-
netedecuriosidades»,aindaao jeitodoséculoXVIII.Nãoobstante,
este embrião demuseu surge-nos associado a um órgão afim - a
biblioteca,também instalada nummóvel igual ao do património
museológico.
Osdoismóveisaindaseencontrametiquetadosepreservadosnopatri-
móniomuseológico da Fundação Portuguesa das Comunicações e
testemunhamo
corememory
ouoprimeirocartãode identidadedo
Património museológico
de telecomunicações:
criação e gestão em contexto
AlfredoAnciães
|
Licenciado emHistória e
pós-licenciado emBibliotecas;Arquivos;Museologia eGestão do Património.
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AntónioRodriguesdaLuzCorreia
Umpercurso singular,1925-2008
Júlia Saldanha
|
Licenciada emHistória (UC).Arquivista (UC).
Biografia
OriundodeumaclassemédiadoPortugaldoséculoXXdescapitalizado
ecomcrisespolíticasconstantes,enfrentouasdificuldadeseconómicas
dagrandemaioriadapopulação,colmatadasporumtipode instituições
queos impérioscoloniais tecem,asmilitaresepara-militares.
LuzCorreianãofugiuàregraeentre1937e1968adquireasuaformação,
frequentandodurantedezanoso InstitutodosPupilosdoExército,
ecumpreasuavocaçãonaEscoladeBelas-ArtesdoPorto,concluin-
doocursodeEscultura.
Opedagogo.Ensinarbrincando
«
Acriançaésempreummundoporconhecer.»
LuzCorreia,
Garatujas
Numdos seusprimeiros cruzamentosdevida,LuzCorreiaao ingres-
sarnaEscolaIndustrialdaPóvoadoVarzim,reveloude imediatoasua
sensibilidadeeespíritoartístico inovadoraofundarem1951oCentro
Artístico Infantil,CAI,paraaíobservaroqueascriançasentreos 10
e14anospintavame«ensinarbrincando».Maistardepromoveuma
exposiçãodestes trabalhosnaPóvoadoVarzim.
ComobolseirodoSNI,promoveaexposição«Oqueéarte infantil»,
largamentenoticiadana imprensadaépoca.
Elepróprio relataesteperíodo:
«
Em53-54,...obtiveumabolsadaAdministraçãodasMinasdoPejão,
ondeestagiei6meses.Conseguiqueosmineirosdos20aos60anos
desenhassemepintassem.Paraalémdodocumentáriofotográfico,
teve lugarumagrandeExposiçãodoSNI«ArtedeCriançaseAdultos»,
queobteveassinalávelêxito,nacomunicaçãosocialenopúblico.»
1
Aestaexposição largamente ilustradanomagazine
OSéculoIlustrado
,
refere-seo filósofoepedagogoDelfimSantos:«...documentapro-
Inmemoriam
«
Uns têmumapersonalidademaisespacial,outrosumapersonali-
dademais temporal.
Estariaaquiadistinçãoentreheróiseartistas?»
Novalis
,
Fragmentos
É
comestetipode inquietaçõesque iniciamosatentativadeabor-
dagemàpersonalidadede LuzCorreia,patenteno seupercur-
soprofissional,eosmúltiplosediversificadostestemunhosquedei-
xou.
Detentordeumacarácterforte,muitasvezespolémico,LuzCorreia
ésimultaneamentetímidoemodestonasuaafirmaçãoartística,pro-
vavelmente frutoda suadupla formaçãocientíficaeartística.
Entreapsicologia,aesculturaeamedalhística,todosestesmundos
formaisforamutilizados,porvezessimultaneamenteparapreencher
o seuespíritode«fazedor»,naacepçãoborgeanado termo.
Dir-se-iaqueoLuzCorreiaquealgunsdenóstivemosoprivilégiode
conhecernasuamultiplicidadeartísticaatravessaouniversodico-
tómicodo séculoXXeas caóticas incertezasdosprimeirosanosdo
séculoXXI,tentando interpretarsobuma luzmuitoprópriaomundo
eoosseuscontemporâneos,legandoa todosnósos testemunhos
da suas inquietações.
Ferro,bronze,vidro,quaiselementosdapedrafilosofal,sãoosmate-
riaisdeeleição,nasuaexpressãoartística,quecommestria traba-
lhadesdeamedalhadedimensões reduzidasàarteurbanadegran-
devolumetria.
Poderemosafirmarsemsombradedúvidaqueduranteoseupercurso
devidatentouaproximar-secomalgumêxitoa
«
sabedoria
»
,
nosen-
tidoalquímicodoconceito.
escultura deLuzCorreia, acervo daFPC.
68
administrador-gerala concretização domuseu queGuilhermino de
BarroscongeminaranoséculoXIX,quandoosCorreiospassaramaDirec-
ção-GeraldosCorreios,TelégrafoseFaróis.
Opalestrante,aofazerumarondapelosmuseuscongéneres jáemfun-
cionamento,apresentaa experiência domuseu dinamarquês,que
chegouàconclusãodeque«eranecessáriopercorrerasestaçõesdo
país,àprocuradeobjectosde interesseparaoMuseu.(...)Équesóos
Conservadoressabemoque lhes interessa (...)».
E,considerandoa selecçãodomaterialparaoMuseudosCTT,inter-
roga-sese«deveráummuseupostalrecolher«emespécime»todos
os objectos que lhe digam respeito?A admitir resposta afirmativa
paraestapergunta,qualquermuseudacategoriadonossosetrans-
formarianuma ...Babilónia!Nãohaveriaespaçoque chegassepara
«
recolher»todasascoisasutilizadasnosCorreios,TelégrafoseTele-
fones:ambulânciaspostais,barcospostais,mobiliário,postosemis-
sores,furgonetas,etc.»
Afinal,pareceque tudoseriamuitomaissimples.Emboraaumadis-
tância considerávelem tempo,emMarçode 1955,osServiçosCultu-
raisdosCTTeditam,sobotítulo«MuseudosCTT»esubtítulosordem
deserviçoN.
o
5501,1,
RegulamentodoMuseudosCTT,oque iriasero
MuseudosCTT,quaisseriamosseussectores(oque implicaqueacer-
voteria),quaisosserviçosquecomportaria,comquepessoalfuncio-
nariaequaisas respectivasfunções,quehoráriopraticaria ...
Indicando-seaquiserviçoscomoosdeSecretaria,Inventariação,Téc-
nicosedeConservação,apenasopessoaldaSecretariaéespecifica-
do,pois«OsServiçosdeSecretariasãodesempenhadosporpessoal
doquadroadministrativo (...)».
Nadaéesclarecidoquantoaclassificação,inventariaçãoeregisto,ser-
viçostécnicos,serviçosdeconservação(parautilizaraterminologiado
Regulamentocitado).
E
mpalestraproferidaemOutubrode1949,oprimeiroconservador
doMuseudosCTT,Dr.MárioGonçalvesViana,dirigiu-seaocorreio-
-
morEng.CoutodosSantosnestestermos:«FoiporpropostadeV.Exa.
queS.Exa.oMinistrodasComunicaçõessedignoucriaroMuseudos
Correios,Telégrafos e Telefones,velhaaspiração deste organismo,
masaspiraçãoque,há longosanos,nãopassavadeumvagosonho,
(...)»
Estapalestra,an.
0
61
dasPalestrasProfissionaisqueperiodicamen-
tereuniamopessoaldirigentesuperiordosCTT,quasesemexcepções,
paradaremcomumtestemunhodasváriasáreasdeactividadecome-
tidasàAdministração-Geral,serviuparaoconferencistaapresentar
asuavisãodoMuseuemgeraledaquiloqueoMuseudosCTTdeve-
riaviraser.Conscientedasdificuldadesque iriaencontrar,dizmaisà
frenteque«ummuseuqueseorganizetrazconsigoumnúmero infi-
nitodeassuntosa resolver,quepoucagenteestaráemcondiçõesde
avaliar,com justeza,àprimeiravista.(...)commuitomais razãopode
fazer-se talafirmativaacercadeumMuseudosCorreios,Telégrafos
eTelefones.Comefeito,elenãoéummuseudearte,nãoéummuseu
industrial,não é ummuseu etnográfico,não é ummuseu técnico,
nãoéumgabinetedeestampas,nãoéumgabinetedefotografias,
nãoéumgabinetedemoedas,nãoéummuseudemobiliário,nãoé
ummuseuhistórico,masparticipadetodasestasmodalidadesetem
deobedecer,emcadaumadelas,às técnicas respectivas.Nisto resi-
deasuadificuldade.»
Afazermosfénestasafirmações,pesandotudooqueumMuseudos
Correios,TelégrafoseTelefonesnãoera,oqueviriaaserumtalmuseu?
Estava-senessemomentoemfasedearranqueda instituição,ospri-
meirospassosdestinavam-sea juntaraspeçasquetinhamsidoguar-
dadasdesdeocélebrerelatóriodeGuilherminodeBarros,peçasdesen-
cantadasporGodofredoFerreiraebaseque lheserviuparaproporao
O Museu dos CTT
Antero de Sousa
|
AntigoConservador doMuseu dosCTT
Palestra profissional, acervo do arquivo histórico daFPC.
Sala de exposição permanente doMuseu dosCTT, naRuaD.Estefânia,Lisboa, acervo iconográfico daFPC.
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comunicação,dasnotícias,daíotermohermenêuticacomoaarte,a
ciênciae técnicavoltadasparaa interpretaçãodosentidodasmen-
sagens,daspalavras,dos signosedo seuvalor simbólico;enquanto
métododecomunicação,oesclarecimentodascoisasnoseucontex-
to;assim,tambémrelacionamosahermenêuticacomasemiologiae/ou
asemiótica.Nesteâmbito,relevamosa importânciadacognição,da
buscadoapreenderaessênciaecompreensãodascoisas;anecessi-
dadedepercepcionara (in)formaçãodaciênciacome/oua tecnolo-
giadeumaformaesclarecedoraeamigável.
Visãopositivistaenquadradaemduasperspectivas:porum lado,ométo-
dogeraldopositivismodeAugusteComte,queconsistenaobserva-
çãodosfenómenos,subordinandoa imaginaçãoàobservação;Comte
definiuapalavra«positivo»comseteacepções:real,útil,certo,pre-
ciso,relativo,orgânicoesimpático;oconceitode«simpático» impli-
ca afirmar que as concepções e acções humanas sãomodificadas
pelosafectosdaspessoas (individuaisecolectivos);Comte indicoua
subjectividade como um traço característico e fundamental do ser
humano,quedeveserrespeitadoedesenvolvido.Comteexplicitouainda
queum
espíritopositivo
émaioremais importantequeameracien-
Pontosde vista
uma visãoheurística construtivista,
hermenêuticapositivistada cultura científica
Visãoheurística,enquantociênciaquetemporobjectoadescoberta
defactos;oramodahistóriavoltadoparaapesquisadefontesdocu-
mentais;ummétodode investigaçãobaseadonaaproximaçãopro-
gressivaaumdadoproblemacomvistaàsua (re)solução;umameto-
dologiaeducacionalque consisteem fazerdescobrirpeloeducando
oquese lhequerensinar.
Visão construtivista,enquanto teoria sobre a produção social do
conhecimento;entende que o ser humano aprendemotivado por
umanecessidadereal,pormeiode interacçõescomosváriosobjectos
doconhecimento;contrapõe-se radicalmenteaoensinopela repeti-
çãoexaustiva.Oalunodeveseroprotagonistadopróprioprocessocog-
nitivo;perante estímulos externos,deveagir sobre eles para cons-
truireorganizaroseupróprioconhecimento,deformacadavezmais
elaboradaeexperimentada.
Visãohermenêutica,segundoamitologiagrega:Hermeseraodeus
mensageiro,o arauto intérprete da vontade dos deuses;deus da
A usabilidade educativa
dos museus de empresa,
enquanto centros de ciência
e tecnologia
Novas perspectivas didácticas
Algumasparagensnaspaisagenspercorridaspela intervençãopedagógicado
ServiçoEducativodoMuseudasComunicações
.
Joel deAlmeida
|
Licenciado emComunicaçãoMultimédia,Doutorando emCiências daEducação, Santiago deCompostela
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se ficoua dever,aliás,a introdução do ensino da electrotecnia em
Portugal,foi reunindovastabibliografia sobre telegrafia,engenha-
ria electrotécnica,telefonia e tracção eléctrica,bem como revistas
daespecialidade.
NanovaOrganizaçãodosCorreios,Telégrafos,TelefoneseFiscalização
das IndústriasEléctricasde 1911,aBiblioteca reapareceemanexoao
entretantocriado LaboratórioElectrotécnico,enelaé incorporadaa
bibliografiadePauloBenjamimCabral,alémdesetornarobrigatória
arecolhaderegulamentos,instruçõesedemais legislação.É,pelapri-
meiravez,nomeadoumbibliotecário,JoãoGualbertodoNascimento
Pires,substituídonoanoseguinteporJoaquimChagas,queempreen-
deumesforçodesistematizaçãodacolecção,sendopublicadoopri-
meirocatálogoonomásticodas3500obras jáentãoexistentes.
ABiblioteca,atéentão instaladanoTerreirodoPaço,juntodogabi-
netedo inspector-geralacompanha,emmeadosde1912,amudança
dos restantesserviçoscentraisparaaRuadeS.José,20,sendocolo-
cada,numa primeira fase,nas antigas cozinha e copa do Palácio
SousaLeal,eposteriormenteremetidaparaaantigacavalariçadopalá-
cio.
Noentretanto,em1920,oDecreto6822de10deAgostoaprovaopri-
meiroRegulamentodaBiblioteca,elaboradoporumacomissãoche-
fiadaporManuelPintodeMelo,comcontributodeterminantedeJoa-
quimChagaseGodofredoFerreira,então3
o
oficialdosCorreios.
Osanos trintado séculoXXe iníciosdadécada seguinte forammar-
cadosporumcertoapagamento,situaçãoqueveioaseralteradaa
partirde 1945,comocontributodeAmáliaDuartedosSantosFerrei-
ra.Trata-sedafilhadeGodofredoFerreira,eleprópriobibliotecáriode
formação,cujoscontributosdirectosou indirectosoriginaramacons-
tituiçãodeum importantepatrimóniocultural,basedosactuaisArqui-
voHistórico e Biblioteca da Fundação.Amália Ferreira conseguiu a
Oprincípio...
O
RelatóriodoAnnoEconómico1877-1878
daautoriadoDr.Guilhermi-
noAugustodeBarrosdeclara,adadopasso
1
,
quesecriouumMuseu
Postal,dotando-ocomtrintaobjectosequeaBibliotecafoienrique-
cidacomquatrocentosvolumes.
Éesteomomentofundadorqueassinalao iníciodaexistênciadestas
duas instituições,tão profundamente ligadas,associando-as ao
desenvolvimentodosserviçospostaisque,porestaépoca,conhece-
ramumperíodoparticularmente inovador.
Jáem 1877,oministrodasObrasPúblicas,JoãoGualbertodeBarrose
Cunha,quetutelavaosCorreiosePostasdoReino,dava instruçõesno
sentidodeseenvidaremesforçosparaasuacriação.Eassimsefez,com
oconcursoabnegadodoconceituadoeditorDavidAugustoCorazzi,
queerasimultaneamenteoficialdaAdministraçãodoCorreiode Lis-
boa.Este editor ofereceu os primeiros vinte e nove exemplares da
BibliotecaPostal,conjuntoformadoporobrasdeJúlioVerneeMayne-
Reid.Emboranão se enquadrassenos objectivos deapoio técnico-
profissional que estiveramna base da criação da Biblioteca,o seu
contributo foi aceite peloDr.Guilhermino de Barros que lhe enco-
mendaaediçãodo«RepositórioMensaldedocumentosdaDirecção
GeraldeCorreios»,instrumentoquesetornoufundamentalparaauni-
formizaçãodaprestaçãodeserviçopostalecujoprimeironúmerosai
logoem Janeirode 1879.
Sabemosqueapósesteentusiasmo inicialeaunificaçãoentreCorreios
eTelégrafospromovidapelaReformade1880,quecolocaaguardae
arrumaçãodaBibliotecasobaresponsabilidadeda1
a
SecçãodaSecre-
tariadaDirecção-GeraldosCorreios,TelégrafoseFaróis,se fazsilên-
ciosobreasuaexistência.
Entretanto,Paulo BenjamimCabral,inspector-geral dosTelégrafos
entre1888e1910,eminenteprofessordoInstitutoIndustrialaquem
A Biblioteca da Fundação
PortuguesadasComunicações:
uma questão de património
IsabelVarão
|
Licenciada emHistória (UL), Pós-Graduada emCiênciasDocumentais (UL)
ABiblioteca daFundaçãoPortuguesa dasComunicações: instalação inicial no 1º andar.
4
cado,aqueleque lhecalçavaquenemuma luva,dadooseugostopela
Históriaepeloensino.
EscutandoaDr.
a
MariadaGlóriaedemãosdadascomaDr.
a
Alva,res-
surgirmosepartilhamosconstrutosconstruídoseaconstruir :
130
anos...
«...
sehace caminoalandar.»
AntónioMachado
Poetaespanhol
«
Nãoépossível ignorarqueahistóriadocorreioe,de imediato,adas
telecomunicaçõesestão intrinsecamente ligadasàhistóriadacivilização.
Ascomunicaçõesvencemoobstáculodequaisquer fronteiras,inde-
pendentementedeseremnaturaisoupolíticas.
A institucionalizaçãodocorreiosurgeemfinaisdoséculoXVIII.Apar-
tir destemomento,nasce uma nova história.A história contada é
referenciada comobjectosmuseológicos.Daíqueum séculodepois,
comonos relataGodofredoFerreira,nasçaa ideiadacriaçãoecons-
tituiçãodeumMuseuPostalecomelaosimplesgestodeseleccionar
epreservarobjectosemusonaEmpresa.»
AlvaSantos
inCódice
DoMuseuPostalaoMuseudosCTT
EmPortugal,aprimeira referênciaaummuseudocorreiofoi sugeri-
da,em instrucçõesenviadasàDirecçãoRegionaldosCorreiosePos-
tasdoReinopeloMinistrodasObrasPúblicas,aGuilherminoBarros,
PrimeiroDirectorGeraldosCorreiosTelégrafoseFaróis (1877-1893),e,
diziaque«consignavamqueaDirecçãoGeraldosCorreiosforcejaria
por ircriandoaBibliotecaemuseuspostais» .
Importanteémencionarque,deacordo comoprimeiro relatóriode
gerência1877-1878,GuilherminodeBarrosafirmouqueomuseufoi ini-
cialmentedotadodeumprimeironúcleode trintapeçasquesepre-
«...
eaquelesqueporobrasvalerosas
sevãoda leidamorte libertando....
Cantandoespalhareipor todaaparte...»
LuísdeCamões
,
Lusíadas
,
canto I.
R
eiteramoseseguimosopropósitodopoeta,nãodeixandoapa-
garparaofuturo,memórias,vozese rostos.Emdiversoscontex-
tos,massobretudonodamuseologia,sabemosqueos legadosdesabe-
ressão importanteseúnicos,equetodaacaminhadadevoltaaopas-
sado tem reflexos imediatosnofuturo.
Algumaspalavras...
ConhecereouviraDr.
a
MariadaGlóriaFirmino,terceiraconservadora
doMuseudosCTT,éumprivilégioapartilhar.
Em situações formais,nas reuniões dosAmigos doMuseu,ounum
simples«olá,comoestá?»,encontrosdoaquiedoagora,ésempre
umdeleiteouvi-la .Maisdoquefazernotícia,reportagemoucrónica
doqueouvimosecumplicementeexperienciámos,nãoconseguindo
registaroqueouvimosesentimos,asemoçõesvivenciadasepartilhadas,
aqui depomos e ofertamos algumas das suas estórias,histórias e
memórias:
« ...
comecei,compésde lã,a ler relatóriosea iraopassado...»
Foi em 1953 que ingressounos serviços doMuseu,a pedido do seu
chefe,Dr.AntónioMoraRamos.EmborativessesidoadmitidanosCTT
em1944,poucoounadasabiadoMuseu,masnãotevedúvidasque,
detodososserviçospossíveisnosCTT,seriaomuseológicoomais indi-
Património tangível,memórias
intangíveis
130
anosanimadose imortalizadosporgestos,
palavras,vozese rostos.
MargaridaMouta
|
Licenciada em FilologiaRomânica eDocente
Exposição noMuseu dosCTT, nasPicoas.Ao centro,Maria daGlóriaFirmino, 19??, acervo iconográfico daFPC.
76
ANO XI
|
SÉRIE II
|
2008
|
ANUAL
|
NÚMERO CINCO
presidente do conselho de administração
JOSÉ LUÍS C. ALMEIDA MOTA
director
ISABEL SANTIAGO
coordenação editorial
RITA SEABRA
assessoria
RITA SACRAMENTO MONTEIRO
colaboraram neste número
ANTERO DE SOUSA
ALFREDO ANCIÃES
ISABEL VARÃO
JOEL DE ALMEIDA
JÚLIA SALDANHA
MARGARIDA GÍRIO MOUTA
direcção gráfica
LUÍS SOARES, PAULO FRÓIS
paginação
DUPLADESIGN, LDA
fotografia
JOSÉ CARLOS ALEIXO
MADALENA ALEIXO
pré-impressão, impressão e acabamento
TEXTYPE, ARTES GRÁFICAS, LDA
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sede de redacção
Rua D. Luís I, 22, 1200-151 Lisboa
propriedade
FUNDAÇÃO PORTUGUESA DAS COMUNICAÇÕES
Rua D. Luís I, 22, 1200-151 Lisboa
NIPC: 504 166 255
editor
FUNDAÇÃO PORTUGUESA DAS COMUNICAÇÕES,
ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO E IMAGEM
depósito legal
125 540/98
issn
0874-2901
tiragem
1500
EXEMPLARES
Códice é uma publicação registada sob o número 122 468
capa e verso da contra-capa:
«
passarola e mala posta» painéis de
azulejos da autoria de Rosário da Silva, produzidos na fábrica
«
Viúva Lamego», acervo da FPC.
4
Património tangível, memórias intangíveis
130
anos animados e imortalizados por gestos,
palavras, vozes e rostos
Margarida Gírio Mouta
18
A usabilidade educativa dos museus de empresa,
enquanto centros de ciência e tecnologia
Novas perspectivas didácticas
.
Algumas paragens nas paisagens percorridas
pela intervenção pedagógica do Serviço Educativo
do Museu das Comunicações
Joel de Almeida
52
Património museológico de telecomunicações:
criação e gestão em contexto
Alfredo Anciães
68
O Museu dos CTT
Antero de Sousa
76
António Rodrigues da Luz Correia
Um percurso singular, 1925-2008
Júlia Saldanha
4
68
52
18
84
A Biblioteca da Fundação Portuguesa
das Comunicações:
Uma questão de património
Isabel Varão
84