Página 14 - Códice nº5, ano 2008

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ca, se traduziam na respeitabilidade pela história e seus interve-
nientes, exigindo aos intervenientes, enquanto portadores de
uma identidade, um critério de selecção na recolha.
Os objectos, mais do que o seu valor intrínseco tinham que trans-
mitir informações ligadas à história, ao ambiente social, à econo-
mia, ao progresso tecnológico (por si ou em conjunto com os outros).
Tanto a conservadora chefe como a conservadora adjunta tiraram
o curso de museus. Porém a conservadora chefe, Maria da Glória
Firmino estudou Museologia com o professor João Couto, e com ele
aprendeu a eleger o Serviço Educativo do Museu como sua priori-
dade. No seu tempo, vários licenciados, após ingresso nos serviços
fizeram cursos em áreas fundamentais inerentes ao Museu. Quase
todos, com formação competente e provas dadas, foram encami-
nhados para os Serviços Artísticos e Culturais.
Crentes nos seus desígnios e paixões, as conservadoras dedica-
ram especial atenção à formação museológica do pessoal de lim-
peza do material exposto e na reserva. Muitos se dedicaram de alma
e coração; a actuação da Sra. Rosa, pela sua vontade de fazer
mais e dar sempre mais, é digna de ser destacada e relembrada.
Igualmente inolvidáveis são os guardas do Museu: o contínuo
Francisco Guapo, que acompanhou o Museu de S. Mamede ao Cal-
das até à Estefânia; o Sr. Martins que, com competência, orienta-
va e guiava os visitantes dos domingos na Estefânia; o Sr. Dias
que, com muito aprumo, na portaria, recebia os visitantes; e o
jovem Rufino, que se adaptou de tal ordem ao Museu dos CTT que
o acompanhou até às novas instalações na Fundação.
No que respeita aos primórdios do Serviço Educativo, também não
podemos deixar cair no vaso do esquecimento o grupo de monitores
que, constituído por estudantes universitários,magnificamente fez
com que o Museu fosse conhecido de escola em escola.
Visionária consciente de que «não existe Museu sem colecção e todo
o percurso cultural do Museu é todo o Museu», a Dr.
a
Maria da Gló-
ria depressa percebeu que o Museu não parava ali e que era pre-
ciso recolher tudo, visitar armazéns, arquivos mortos, etc. A sua prio-
ridade foi então salvar material,mobiliário, testemunhos, e pôr tudo
a funcionar, trazendo para Portugal o melhor do que havia lá fora.
Acreditava e dizia: «É preciso continuar as colecções, senão o
Museu acaba». Nela acreditou, também, Couto dos Santos, que
tudo orientou para que, em pouco tempo, muitos móveis ficassem
cheios.
Nos anos 50, as práticas museográficas herdadas do século XIX
foram profundamente postas em causa. Questionou-se a coloca-
ção em vitrina de uma proliferação de objectos repetitivos, sem iden-
tidade, ou articulação de discurso coerente entre si. Sobre essa prá-
tica, conduzidos pela Dr.
a
Maria da Glória, ouvimos as palavras de
Couto dos Santos: «Mais vale mostrar numa sala uma única obra
boa, do que rodeá-la de outras secundárias que a prejudiquem e
desvalorizem». Daí que toda a exposição devesse ser um instru-
mento da linguagem e da identidade de um Museu.
Considerando que o Museu deveria proporcionar ao visitante uma
matéria de pesquisa tão variada quanto possível, criaram-se reser-
vas ou galerias de estudo. Igualmente, neste período, surgiram os
espaços destinados a exposições temporárias.
Tratar de todas estas questões que têm a ver não só com a reco-
lha, classificação, agrupamento por colecções, mas também com
a conservação, restauração e arquitectura, conduziu a que a pro-
fissão nos museus se organizasse à escala internacional.
O interesse pelamuseologia e museografia crescia e gerava em inter-
disciplinaridade as diversidades de culturas e símbolos que, deter-
minando uma filosofia, mas também uma consciência museológi-
Painel patente no Museu dos CTT na Rua D. Estefânia, Lisboa, acervo iconográfico da FPC.