ter as sombras tristes que trago na alma.» (23/5/1931), de sublimar
o desejo de amor: «Eu sentia-me só com a paixão da Arte; necessi-
tava amar alguém que me desse uma dedicação carinhosa (...)»
(
refere-se à sobrinha neta Tita, 14/1/1935).
As homenagens também são referidas, com reconhecimento e humil-
dade, ambas revelando o seu carácter: «A festa de homenagem em
Sintra marca para mim um delicioso momento desta vida tão traba-
lhosa e torturada, fizeram-me chorar,mas abençoadas lágrimas que
dão alívio e coragem.Tão altasmanifestações confundem-me,pesam,
chegando a sentir o pungentíssimo receio de não as merecer.»
(4/7/1926).«
Pois é verdade;não tenho remédio senão ser comendador
mais uma vez! Na velhice, quando já temos pouco préstimo, é que
afluem os enfeites, e isso tem talvez uma certa lógica.» (9 de Feve-
reiro de 1936).«Estou confundido com tantas manifestações, inquie-
to e receoso de as não merecer. (...) A recepção do Ministro de Fran-
ça, cá em casa, esteve bonita, e a sessão da Câmara foi brilhante.»
(15/12/1936).
Por vezes, o êxito não é suficiente para apagar a dor:
«
o sucesso extraordinário que obtéma Nossa Senhora, impressão de
algum consolo, mas que já não arranca da minha alma tão doente,
a nuvemescura que a cobre! Necessitava de algum repouso, de sere-
nar aminha agitação nervosa,mas como e quando?! Indo para longe
levaria comigo todos os meus males!...» (22/7/1931).
Datas e acontecimentos pungentes são recordados, a morte de
Homem -Cristo Filho (em Itália,numacidente de automóvel) (carta de
14/6/28),
a«triste solidão do Arroio» (22/10/1930),amorte do amigo
querido Jaime de Magalhães Lima (1936), e tambémacontecimentos
marcantes nopanorama cultural daépoca,comoa sessãodaAcademia
Nacional de Belas-Artes,presidida por Teixeira Lopes,que elegeu Rey-
naldo dos Santos em substituição de José de Figueiredo, director do
Museu de Arte Antiga (6/1/1938).
Podemos acompanhar momentos importantes do seu trabalho,
o monumento de La Couture (comemorando a intervenção portu-
guesa na Grande Guerra) – «o enorme sacrifício que tive de fazer
aos 62 anos» (3/12/1928), o monumento ao músico e pintor Alfre-
do Keil (17/7/1930), a Nossa Senhora de Fátima – «Nunca fiz uma
obra com a qual vivesse tão intimamente, tão intensamente»
(22/10/1930),
o monumento a Antero (29/3/1931) e também as difi-
culdades que certamente não merecia: «As encomendas vanta-
josas são cada vez mais raras e eu chego a convencer-me que terei
de me desfazer do recheio desta casa de Gaya (...)» (8/10/1931), a
«
reintegração na Escola, que é uma massadoria a mais para mim,
mas que pelo lado moral tem a sua importância, depois do vexa-
me grosseiro que me tinha sido feito» (Janeiro 1932). O frio por
vezes não é um mal menor: «Cá vou mourejando, e mais longe iria
se o rigor do Inverno, este frio cortante me não paralizasse, por
muitas vezes, a ponto de não ter fogão bastante que me confor-
te. Frio da velhice, meu amigo!» (14/1/1935).
A crítica também não é poupada: «Estas coisas (o sacrifício que
representou o trabalho de La Couture) não as ponderam as críti-
cas. Com referência a críticas, dou-lhes a importância que mere-
cem; longe de lhes querer mal, até lhes agradeço as pedradas,
porque me ajudam a tomar breve uma resolução categórica, firme,
decisiva: não lhes dar ocasião nenhuma de se ocuparem de mim.»
(3/12/1928).
A natureza é para o mestre o refúgio ideal:«O nosso Jaime tem razão
em adorar as suas árvores, as suas terras, o despontar do dia e as
belas noites de luar! A contemplação da natureza sem artifícios e
a paz, o socego à beira das minhas montanhas! Perto do fim toda
a minha alma se volta para as coisas simples e verdadeiras; estou
com verdadeira repugnância de lutar neste meio torpe, podre,
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Teixeira Lopes no seu atelier, a trabalhar no monumento a Eça de Queiroz, Setembro de 1904. Fotografia dedicada: «Ao meu querido amigo Silva Rocha,
oferece Teixeira Lopes».