54
tar de novo o tempo.Subterrânea voz do cora-
ção, grito abafado, oculto em trevas silencio-
sas e densas.No rio,as estrelas rasgavamfinos
sulcos de luz que incendeavamo olhar deMlle
Blanche, uma rapariga suspensa do mistério
danoite eda sededeamor cantadoumdiapor
Virgínia Victorino:
Espero-te sozinha na janela.
Virás falar-me aqui. Penso, medito.
Noite d'azul tranquila. Em cada estrela
como se fosse em ti os olhos fito.
Chego a ter medo. Porque não evito
ou não retardo a hora grande e bela?
Esta alegria há-de explodir num grito
em que a minh'alma toda se revela.
De novo estou sozinha. Choro. Choras.
Que mistério insondável o das horas!
Partes. Oiço-te os passos. Noite fria.
Que ausência! Voltarás? Senhor! Senhor!
São as horas tão grandes para a dor
e tão pequenas são para a alegria!
3
Pombas insubmissas,os versos forampousar no jardimonde o Sr.X per-
deu os seus passos, como uma carta de amor que os olhos não lêem,
mas o coraçãoadivinha.OSr.Xprecisava loucamentede cartas deamor,
ao longe os milhares de pequeninas luzes ace-
sas e suspirou languidamente.Ninguémoouviu,
ninguém colheu a sua cabeça como o cálice de
uma flor,paraneladepositar umbeijopuroe cari-
cioso, primeira luz da aurora e da poesia:
Foi ontem, ontem, que à tardinha,
Ao desmaiar do sol de Outono,
Eu te beijei, tu foste minha,
Numa volúpia de abandono…
Fugia a última andorinha
Na crispação do céu de Outono…
O Inverno, o frio se avizinha…
Mas sobre as asas rociadas
Da tua boca de paixão,
A Primavera ria, vinha
Com risos frescos, alvoradas
Rosas e lírios em botão!…
Ontem, enquanto foste minha…
Oh! A alegria de quem ama
Perdidamente o seu amor!
Meu coração era uma chama
De plena luz, de pleno ardor…
(…)
2
Versos esquecidos do grande poeta que desejou ocultar-se, vogan-
dona cidade,folhas douradas queo ventoarrastavaedesejavamhabi-