Página 22 - Códice nº3, ano 2006

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grafava com o cálamo ou o estilete, e o
papiro, sobre o qual se fazia deslizar o
pincel.
Conhecem-sealgumas tentativas feitas
emcidades cananaicas paraa criaçãode
um sistema alfabético, como é o caso de
Biblos (com o biblita), mas ficaram-se ape-
nas por uns frustes esboços sem apa-
rente utilidade prática. Umdos vestí-
gios mais antigos daquela que viria a
ser uma escrita alfabética plena
(
embora ainda sem as vogais, que
seriamacrescentadasmais tarde por
letrados gregos) parecem ser as ins-
crições redigidas por operários semi-
tas que nasminas de Serabit el-Khadim,no Sudoeste da península do
Sinai, estavam ao serviço das autoridades egípcias naquela região.
Alguns desses signos,conhecidos como proto-sinaíticos,aparecemno
sistema cananaico, do qual se conhecem cerca de dez letras (deviam
ser certamente mais, mas perderam-se).
Omais célebre objecto comuma inscriçãoproto-sinaítica é umapeque-
na estatueta de pedra em forma de esfinge, encontrada em Serabit
el-Khadimpor Sir Flindres Petrie em1905 e depois estudadapor Sir Alan
Gardiner. A estatueta tinha duas inscrições, uma em escrita hieroglí-
fica e outra comsignos até então desconhecidos. A versão egípcia era
a declaração de alguém que se dizia «amado de Hathor, senhora
das turquesas». Hathor era venerada na região,onde eramexplora-
das minas de turquesas, muito apreciadas no antigo Egipto como
elemento de joalharia. No curto texto proto-sinaítico, Sir Alan Gardi-
ner reconheceu o nome semita de«Baalat», isto é,«a senhora»,na
Note-se que desde finais do III milénio a. C., quando os sistemas de
escrita usados naMesopotâmia e no Egipto estavam já bemestabe-
lecidos, foi usada a escrita cretense conhecida pelo nome de proto-
linear,comformahieroglífica,conhecendo-
-
se noventa signos, que ainda
estão por decifrar. Cerca de 1700
a. C., a escrita hieroglífica cre-
tense evoluiu para a escrita
linear A, usada entre 1700 e
1450
a. C., que ainda não foi
decifrada, sendo os docu-
mentos redigidos nesta obs-
cura escrita oriundos do centro
e do leste da ilha de Creta. Em mea-
dos do II milénio a escrita cretense em linear A evoluiu para
a escrita linear B, que se manteve em uso na região de Cnossos até
cerca de 1200 a. C., e que está já decifrada, graças aos esforços de
Michael Ventris e John Chadwick (1953).
Talvez por influência do Egipto,surgiu cerca de 1400a. C. a escrita hie-
roglífica hitita, na Anatólia, e que continuou a ser usada nos reinos
neo-hititas da Síria do Norte, sobretudo para grafar o luvita,uma lín-
gua de origem indo-europeia.
Os letrados cananeus utilizaram regularmente desde o III milénio a.C.
a escrita cuneiforme suméria e acádia, e desde cedo começaram a
ensaiar tentativas para criar o seu próprio sistema de escrita, o que
poderá ter ocorrido em inícios do II milénio a. C. Olhando para a geo-
grafia da região vê-se facilmente que eles tinhamduas propostas de
solução, ou o cuneiforme mesopotâmico ou o hieroglífico egípcio,
qualquer deles usando centenas de signos e utilizando suportes de
escrita diferentes, respectivamente a tabuinha de argila, onde se
Esfinge do Sinai
Tábua comparativa dos signos usados na Síria- Palestina.