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para comprar,paraencomendar uma camanas hospedarias,paraman-
dar vir de casa roupa lavada, e para as necessidades domesticas de
urgência.»
Regeneração: o ambiente que acolhe
a telegrafia eléctrica
Com o advento do movimento Regenerador em 1851, e o Acto Adicio-
nal à Carta Constitucional de 1852, é implementada uma série de
reformas que a instabilidade política, económica, financeira e social
protelara. A criação do Ministerio das Obras Publicas Commercio e
Industriaé,porventura,a reformamais destacável doprocessode rege-
neração económica do País. Fontes Pereira de Melo, titular da nova
pasta, teve uma acção de tal forma marcante que, o seu nome deu
origema umnovo conceito de fomento. O fontismo caracterizou este
período da História de Portugal.
Em 1852, o ministro lançou as bases do ensino técnico e quase em
simultâneo criouo Instituto Industrial emLisboa.A construçãodos cami-
nhos-de-ferro e a circulação dos comboios, o lançamento de pontes
e estradas, o correio e a mala-posta, a introdução e o desenvolvi-
mento do telégrafo eléctrico são contemporâneos e resultam da
mesma política regeneradora.
Com a morte da rainha D. Maria II
1
em 1853, D. Fernando
1
assumiu a
regência durante a menoridade de D. Pedro V. No primeiro ano da
regência foram iniciados os trabalhos de construção da via férrea e
a telegrafia eléctrica seguiu-se imediatamente.
O primeiro contrato para introdução da telegrafia eléctrica foi cele-
brado. «A 26 de Abril de 1855 o Ministro Antonio Maria Fontes Perei-
ra de Mello e Alfredo Bréguet […], contrataram a construção das
linhas telegraphicas aereas do Terreiro do Paço, Côrtes, palacio das
Necessidades, Cintra, Mafra, Carregado, Caldas da Rainha, Alcoba-
C
om a entrada da telegrafia eléctrica, o que mudou em relação à
telegrafia visual? Quase tudo: equipamentos,
modus operandi
,
códigos de representaçãode letras,números e frases.Os postos e esta-
ções, bem como as funções dos telegrafistas, foram reconvertidos
ou substituídos.
A divulgação do telégrafo de fio único só foi possível com a invenção
de um código. Samuel Morse registou a sua patente em 1838 e as
comunicações à distância deram um passo fundamental.
O processo de comunicação emmorse envolveu o recurso a fontes de
alimentação contínua. A pilha fora inventada em 1800 por Alessan-
dro Volta e foi melhorada por Grenet e Leclanché. Criaram-se, assim,
as condições essenciais para a prática de transmissão e recepção.
A telegrafia eléctrica permitiu a transmissão, de noite ou de dia, com
uma rapidez inusitada. EmPortugal,o semanário
O Panorama. Jornal
Literario e Instructivo,
número 133,de 1839,apresentou (cremos pela
primeira vez) umanota sobreo telégrafoeléctrico.Dezasseis anos após,
a telegrafia eléctrica foi inaugurada e o mesmo semanário voltou a
publicar uma notícia sobre o novo processo de comunicar à distância.
Nesta altura, os benefícios do telégrafo eléctrico já eram melhor
conhecidos e o mesmo jornal,mais uma vez, destacou algumas van-
tagens que o novo meio veio proporcionar: «É ummeio de transmis-
são, que não só abrange toda a esphera dos interesses económicos,
mas que pode estender-se a interesses de outra ordem, e ampliar-se
ás transacções mais comuns emais íntimas da sociedade».
(
Panora-
ma, Vol XII, 1855, p. 294)
Um outro periódico,
O Jornal do Comercio
de 28 de Julho de 1855, tra-
zia a notícia dos trabalhos em curso para a primeira rede de telegra-
fia eléctrica.
O Panorama
de 6 de Outubro de 1855, voltou a publicar
uma nota,destacando os benefícios que nos EUA retiramdesta tele-
grafia:«Na America servem-se do telegrapho [eléctrico] para vender,
Alfredo Anciães
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Licenciado em História pela UAL - Quadro Superior da FPC
Telegrafia eléctrica
Rainha D. Maria II, arquivo iconográfico da FPC.