Página 6 - Códice nº2, ano 2005

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ou, quando transportando a sua própria mercadoria, transforma-
vam-se emmercadores.
As vilas e cidades tinham normalmente os seus almocreves, para
demanda dos produtos de que careciam.
Esta actividade revestia também o carácter de imposto nas regiões
ondedominavao senhor,queanualmenteexigiao«direitode carreira»
aos seus vassalos, transportando mensagens
ou mercadorias onde lhe fosse exigido.
O preço do transporte das mercadorias era em
função do tempo que gastavam na deslocação
e as taxas de circulação a que estavam sujeitas
pessoas emercadorias,comoas sisas eportagens,
e tambémconforme a época do ano:de Outubro
a Março, verificava-se um acréscimo de 25%,
pelas dificuldades do Inverno.
Normalmente viajavamemgrupo para protecção
e auxílio entre si.
Em muitos concelhos, o rei detinha este direito
sobre todos os almocreves, que anualmente lhe
deveriam prestar um serviço.
Eramassimos almocreves,tambémdenominados
azeméis, recoveiros, caminheiros e carreteiros,
que tinham a função de transportar nos seus
animais asmercadorias que necessitavamas populações:sal,cereais,
peixe , fruta, gado, vinho, azeite, mel e produtos manufacturados.
Os transportes
O transporte destes produtos fazia-se normalmente por animais:
cavalos, mulas e burros que, com alforges, sacos e atados, desloca-
vam a carga de viagem.
agrandemassaprodutiva,quenumregime social hierarquizado se clas-
sificava como «dependentes», para além das franjas marginais da
sociedade, como pedintes e leprosos, que pelo rasto testemunhal
deixado, conforme veremos, deveria ser considerável.
Camponeses,mesteirais,artesãos,mercadores,peões,servos,pedin-
tes e caminhantes,cremos queaceleraramodesenvolvimentodas redes
de comunicações viárias, comerciais e ideoló-
gicas do reino, pressionando o seu estabeleci-
mento, procurando a sua optimização, sedi-
mentando conhecimentos e tradições, numa
rede informal de contactos que, a par dos sis-
temas formais de comunicação detidos pelas
classes possidentes, largamente a excedia.
Os viajantes
O conceito de viagem no Portugal medievo,
pelos perigos e precariedade de condições que
existiam,assaltos,estadodas vias,as condições
do terreno,opagamentodeportagens eoutras
alcavalas, como de resto em toda a Europa,
era francamente restritivo e desmotivador,
pelo que o motivo da deslocação se revestia
sempre de um carácter essencial/profundo
para o seu promotor: comercial - os almocreves, mercadores, arte-
sãos, religioso - os peregrinos,os caminhantes,os pedintes,os lepro-
sos.
Os almocreves e as feiras
Por definição, os almocreves tinham como função o transporte de
mercadorias por contrato,podendo também tratar dos seus negócios
Nossa Senhora da Visitação. Livro de Horas de D. Leonor.
O dragão/besta e os espíritos imundos, Livro do Apocalipse do Beato de Liebana.