Página 50 - Códice nº2, ano 2005

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cies de estuque: uma à base de argila, geralmente mistura-
da com palha, e a outra um tipo de gesso facilmente dis-
ponível no Egipto. Uma camada de gesso era quase sem-
pre aplicada emúltimo lugar,mesmo que a parede já tives-
se uma camada de argila. Não só era possível pintar em
paredes suavizadas com uma camada de gesso, como
também era possível gravá-las mais facilmente do que
na pedra. Adicionalmente, tambémera possível corrigir
facilmente qualquer erro, aplicando umpouco mais de
gesso.
Embora com o passar do tempo muito estuque tenha
caído da superfície da pedra, é possível perceber as
cenas de relevo, já que os decoradores as fizeram para
lá do gesso.Alguns pedaços de gesso (destinados a repa-
rar ou restaurar) caídos ensinam muito aos egiptólogos
sobre os erros feitos pelos antigos artesãos ao acrescen-
tar textos ou imagens e sobre textos cujo conteúdo foi
mais tarde modificado. Como instrumentos de trabalho os
pintores usavampincéis,broxas,godés para a água e placas
de calcário ou de madeira para a preparação das tintas.
As pinturas tumulares feitas sobre os relevos no Império
Antigo e nas paredes cobertas com estuque datadas do
Império Novo (embora se conheçamoutras modalidades de
decoração), são uma excelente imagem acerca da noção
que os Egípcios tinham do tempo (ou então da ausência de
tempo). Na verdade não se observa nas pinturas feitas nas
paredes dos túmulos qualquer indício domomento do dia e a
hora emque determinada cena ocorre - é um tempo eterna-
mente indefinido.
Diversas cores aparecem nas representações legadas pelo
Egipto faraónico,para alémdo cromatismo próprio de inúmeros objec-
talvez seja a cor mais escura dada aos homens (comuma tona-
lidade acastanhada) e uma cor mais clara para as mulheres
(
tonalidade amarelada), que se observa claramente nos
relevos enaestatuária.Este código cromático,útil paraadife-
renciação dos sexos, não poderá, no entanto, ser inter-
pretado como aludindo à vida«mais caseira»damulher,
e que levaria a que elas tivessem uma pele mais clara e
alva por estarem menos expostas ao sol, ao contrário
dos homens a trabalhar nos campos. Não se pode con-
cluir tal coisa, embora a alusão não deixe de ser tenta-
dora: trata-se apenas de umentre vários códigos usados
na arte, cujas estritas regras pictóricas se mantiveram,
no esencial, ao longo dos séculos.
O que nos espanta emmuitos casos é a boa conservação
de algumas pinturas de túmulos e de vários objectos pin-
tados que os museus exibem: a explicação residirá, em
grandemedida,na naturezamineral dos pigmentos selec-
cionados (Claude Traunecker). Em certos suportes as cores
egípcias ainda hoje,passados milhares de anos, reflectema
exuberância da paleta cromática, como é o caso de papiros
cujas ilustrações subsistem em fruitivo brilho, ou de sarcó-
fagos que semantiveram recolhidos nas suas criptas antes
de serem descobertos, ou ainda de túmulos reabertos no
século XIX,depois de séculos de esquecimento. Do ponto de
vista técnico deve ser referida a pintura sobre gesso. As pare-
des dos palácios e túmulos, fossem de tijolo ou de pedra,
eramgeralmentemuito irregulares parapoderemser decoradas.
Omesmo acontecia coma superfície das estátuas (de pedra
ou demadeira).Por esta razão era acrescentada uma cama-
da de gesso para estucar a superfície, existindo duas espé-
Sarcófago da colecção egípcia do Museu da Farmácia: tonalidades amarelo-douradas para a eternidade.
O príncipe Rahotep e sua esposa Nefert mostrando as cores das convenções artísticas, com a pele acastanhada do homem e a pele amarelada da mulher.