Página 74 - Códice nº1, ano 2004

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izem-nos que o Sol quando nasce, nasce para todos. Então, por-
que continuamos incessantemente em busca de um lugar ao
Sol? Nestaaparente contradição encontra-se o cerne da globalização,
que é para todos, mas assumindo tónicas de diferentes matizes.
A Sociedade da Informação confere conhecimento e a Sociedade do
Conhecimento confere competências,promovendo não a gestão dos
«
triviais» recursos humanos,mas simdas pessoas como um todo.Pelo
meio está a Sociedade Bit, à qual pertencem todos os que, de uma
formaououtra,são envolvidos nomundo tecnológico e têma sua exis-
tênciaorientadapor dígitos binários,0e 1,semo saberemoudisso terem
consciência quando fazem os mais banais actos da sua vida social.
Bit -
Bi
nary Dig
IT
-
vai ser entendido aqui,se bemque nemsempre com
anecessáriaveemência,pois causaria redundânciae repetiçãoao longo
do texto, como o
B
inário da
I
nformação e da
T
ecnologia, o
B
inómio
da
I
nformação e da
T
ecnologia, a
B
ilateral da
I
nformação e da
T
ec-
nologia, a
B
agagem da
I
nformação e da
T
ecnologia, a
B
ateria da
I
nformação e da
T
ecnologia.
Perdoarão a exaustão,mas estamos crentes que emqualquer daque-
las expressões está ummundo pequenino, em tamanho, mas com a
dimensão do pé que Armstrong deixou gravado na superfície lunar e,
por issomesmo,de inestimável valor para o futuro,futuro doHomem,
ser pensante e ser social. Fiquemo-nos por aqui.
O cenário onde tudo se desenrola é o tabuleiro da globalização:ponto
de partida, ponto de chegada, casa da sorte, casa damorte. Jogam-
-
se dados e somos confrontados com a obrigação de recuar, mais
frequentemente do que avançar duas casas. Mas joguemos, não há
alternativa. Quer queiramos quer não, somos globais.
Muito embora possa não parecer,a verdade é que tudo o que aqui se
pode ler é sobre oHomem,paraoHomeme emfunção doHomemque,
apesar de sempre expectante e comos olhos postos nomundo,ainda
estámuitopróximodaquiloque lhedizemos fazedores deopinião,mais
ainda, se o que estiver em jogo se relaciona directamente com os
interesses de cada um.Não importa fugirmos a esta realidade.Mesmo
quando os órgãos de comunicação, nomeadamente a Internet,
espaço onde os canais televisivos,rádios,jornais debitama sua infor-
mação,dando-nos,ao segundo - coma possibilidade de escolhermos
precisamente o que queremos ver/ouvir - o que vai acontecendo local
e internacionalmente. Esta acção dos média tem o condão de reafir-
mar emnós a consciencialização da nossa individualidade,ainda que
sem perder o contexto global.
Os órgãos de comunicação social estão em constante evolução bus-
cando, ao máximo das suas capacidades, matéria não só informati-
va,mas também lúdica.Assimsendo,a globalização ou,se quisermos,
universalizaçãoouainda,internacionalizaçãoda sociedadeportuguesa,
por exemplo, (como sucederá comoutras, claramente) continua a ser
alvo constante do que «
é feito lá fora
».
Mas hoje, fruto da globali-
zação, o próprio conceito envolvente do lá fora deixa de fazer senti-
do pois desconhecemos onde fica essa realidade geográfica.
Esta é uma verdade que se pode observar,mais claramente talvez,no
modo como influencia a
introdução
de novos
termos na língua
que
se fala quotidianamente no país. O português do Brasil é, evidente-
mente,umexemplodoqueacabámos deafirmar.Mas porque Portugal
também faz parte da globalização e, de há um tempo a esta parte é
tambémprodutor de telenovelas,comcanais de televisão no exterior
que têm os imigrantes em mira primeiramente, está igualmente a
contribuir para originar alguma
integração
não só da língua, como a
desvendar-se cultural, política e nacionalmente. Inevitavelmente
assim é, pois:
«
A televisão dá-nos a imagem da realidade e permite
amodificação das representações domundo, tornando-se hoje numa
das principais fontes de construção da realidade social. A televisão
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Globalização: Casa da Sorte
ou Casa da Morte
Reginaldo Rodrigues de Almeida
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Doutorado em Ciências da Informação - Secretário-Geral da Universidade Autónoma de Lisboa
A Sociedade da Informação é a Sociedade da Comunicação.