Página 30 - Códice nº1, ano 2004

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1
˚) Capítulos 1 a 16: O defunto entra no túmulo e desce dele para o
mundo subterrâneo. O corpo do defunto adquire as capacidades físi-
cas que tinha tido na sua vida terrena;
2
˚) Capítulos 17 a63:sãodados a conhecer os lugares doAléme os deu-
ses que lá vivem. O defunto renascido acompanha o renascer do Sol
brilhando na alvorada;
3
˚) Capítulos 64 a 129: O defunto viaja na barca solar através do céu
diurno e continua a viagem pelo céu nocturno até entrar na sala do
julgamento de Osíris e de Maet;
4
˚) Capítulos 130 a 189: Tendo sido declarado justificado ( justo de
voz) no julgamento, o defunto assume o seu poder no universo como
um deus. Esta quarta secção pode ainda ser dividida em duas sub-
secções: a primeira comos capítulos relativos à viagemna barca solar
com Ré e a outras actividades realizadas pelo defunto justificado, a
segunda comos capítulos que tratamdos amuletos,da alimentação
e de lugares importantes.
Paul Barguet, outro estudioso do «Livro dos Mortos», acrescenta
uma quinta secção contendo os capítulos adicionais ao propor a
seguinte divisão:
1
˚) A viagem em direcção à necrópole (capítulos 1 a 16);
2
˚) A regeneração (capítulos 17 a 63);
3
˚) A transfiguração (capítulos 64 a 128);
4
˚) O mundo subterrâneo (capítulos 129 a 162);
5
˚) Capítulos adicionais (capítulos 163 a 192).
Alguns capítulos são desdobramentos do anterior e por isso recebe-
ram letras para estabelecer a diferença (é o caso dos capítulos 30A e
30
B sobre o coração),mas vários não passamdemeras repetições de
outros já antes apresentados, tendo Paul Barguet detectado essas
repetições:por exemplo,o capítulo 10é igual ao capítulo 48,o 12 é igual
ao 120, o 108 é igual ao 111.
rios e impregnados de uma grande magia eficaz. Por exemplo, no
remate do capítulo 19 (capítulo da coroa de vitória) consta a seguin-
te recomendação:
«
Esta fórmula é dita sobre a coroa divina colocada diante do morto,
aomesmo tempoque sedeitambolinhas de incensono incensóriopara
o Osíris (seguia-se o nome do defunto proprietário do exemplar); isto
é fazer comque ele seja proclamado vitorioso contra os seus inimigos,
mortos ou vivos; ele estará entre os seguidores de Osíris, e ser-lhe-ão
dados,perante este deus,jarros de cervejae pães.Quando isto for dito
sobre ti, ao romper da alvorada, é uma grande protecção verdadei-
ramente e indefinidamente eficaz.»
A fórmula do capítulo 137A (coma fórmula das quatro lucernas de glo-
rificação preparadas para o bem-aventurado) continha uma rubrica
final com instruções claras para o proprietário:
«
Presta bem atenção; não a recites em frente de toda a gente, é só
para ti,o teu pai ou o teu filho! Trata-se de umgrande segredo doOci-
dente,ummistériodaDuat.»De facto,as rubricas finais dealguns dos
capítulos insistem em considerar o exemplar do defunto como sendo
apenas seu,rotulado comoalgopessoal e intransmissível,eadrede valo-
rizamo textonele contidoaludindoà sua venerabilidade eantiguidade
(
algumas das fórmulas remontariamao tempo do rei Menkauré,da IV
dinastia!). Afinal de contas, o segredo era a alma do negócio.
Nem todos os autores estão de acordo quanto à divisão dos muitos
capítulos que constituem o «Livro dos Mortos» (para uns são 192,
para outros 189, e há ainda outros números). Uma base para se pro-
ceder à divisão dos capítulos é facultada pelos próprios compiladores
egípcios dos textos que integram o «livro», dado que por vezes apa-
rece a frase «Aqui começam os capítulos...» a anteceder os blocos.
A divisão que aqui apresentamos está de acordo com a proposta de
Ogden Goelet:
Capítulo 94 do «Livro dos Mortos» pintado numa parede do túmulo da rainha Nefertari, esposa de Ramsés II (cerca de 2500 a. C., Vale das Rainhas).