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˚ Período
Uma Tentativa Frustrada (1826-1831)
A Revolução de 1820 trouxe a Portugal uma sinuosa e hesitante expe-
riência liberal, que só se concretizaria, catorze anos mais tarde, com
o fim da guerra civil de 1832/34. Os ideais da Revolução Francesa cor-
porizados pela burguesia de oitocentos criaramgrandes expectativas,
provocandoumaenorme vagade reformas,quepretendiamfazer ultra-
passar o atraso económico do país.
Os reversos políticos infligidos à causa liberal, pela ocupação tempo-
rária do poder pelos absolutistas,mesmo assim,não afectaram total-
mente adinâmicade progressoque se começavaa esboçar noprimeiro
terço do século XIX.
No que diz respeito aos Serviços Postais, verificou-se a implementa-
ção de algumasmedidas preconizadas no início do século,mas que por
razões diversas e ainda hoje difíceis de apurar acabaram por não ter
sido colocadas em prática naquela altura.
De entre algumas dessas reformas, merece particular destaque a
distribuição domiciliária das correspondências, que havia sido avan-
çada pelo Superintendente Geral dos Correios e Postas do Reino
Diogo Mascarenhas Neto, através da
Regulaçaõ para o estabeleci-
mento da Pequena Posta, Caxas, e Portadores de Cartas em Lisboa
,
datada de 7 de Maio de 1800, e cuja publicação aconteceria no ano
seguinte.
Retomando esta
Regulaçaõ
,
no ano de 1821, foi implementado este
diploma, com pequenos ajustes, permitindo que os habitantes da
cidade de Lisboa e das principais cidades do reino passassem a rece-
ber nas suas residências as cartas que lhes eram dirigidas.
Domesmomodo, também, a entrega das correspondências nos Cor-
reios deixou de ser feita obrigatoriamente emmão própria e nos horá-
rios de expediente,uma vez que foramcolocadas caixas de correio nos
tabilística do Serviço, tendo como colaboradores directos dois Fiéis
que pe-savam as malas e a bagagem dos viajantes, e entregavam o
saco das correspondências ao cocheiro da diligência,uma hora antes
da partida.
O Intendente inspeccionava as Estações de Muda, onde se desloca-
va periodicamente, para proceder a uma exame minucioso dos equi-
pamentos e das diligências, e para certificar-se da qualidade dos
fenos que eram fornecidos para os animais.
Havia, ainda, um número considerado suficiente de cocheiros, de
sotas e moços de estrebaria, que asseguravam o funcionamento do
serviço e que, prontamente, respondiam a qualquer reparação da
diligência. Apesar da excelente organização daMala-Posta,este ser-
viço não resistiu para além de 1804, dado que quase não tinha utili-
zadores, com excepção de estudantes e de um ou outro homem de
negócios.
Segundo documento da época referido por Godofredo Ferreira,o pre-
juízo gerado na exploração dos anos de 1800a 1803 atingiu o elevado
montante de 71.392$622 réis,quantia que comprometeria o futuro da
carreira.
Porém,já nos inícios de 1800,perante a constatação dos prejuízos ini-
ciais,foi tentadaa suaminimização,através doaumentodas passagens
de 9$600 réis para 12$800 réis, sem que qualquer resultado prático
daí adviesse.
A carreira foi então suspensa,na esperança da sua reactivação,após
uma paragem para reformulação de alguns procedimentos, visando
torná-la lucrativa.
Porém, os principais centros económicos do país encontravam-se em
Lisboa e no Porto e,entre estas duas cidades,o transporte de pessoas
e mercadorias persistia teimosamente em fazer-se por via marítima,
seguindo uma tradição secular dificilmente ultrapassável.
Aguarela de reconstituição da paragem na estrada. Mário Costa, 1945.