Página 8 - Códice nº1, ano 2004

dirijo as minhas meditaçoens a conhecer os
meios, porque se pode conseguir a prosperi-
dade nacional. Este sentimento, de que me
prezo, e a importancia do objecto, em que
escrevo,de quemuito depende o Commercio
interior,e exterior deste Reino,saõ duas cau-
sas, queme animaraõ a consagrar aV. Alteza
Real o meu trabalho, que ao menos excitará
Vassalos habeis a escrever depois de mim
nesta materia commais acerto».
Após a
Dedicatória
aparece uma
Introdu-
ção
,
na qual Mascarenhas Neto revela um
conhecimento profundo das vias de comuni-
cação romanas, traçando uma breve pano-
râmica histórica da sua evolução. Nesta pri-
meira parte,denota, também, ter consegui-
do grande volume de informação de tudo
quanto se foi fazendo no estrangeiro, espe-
cialmente emFrança e em Inglaterra,em ter-
mos de construção das estradas.
No Capítulo I, intitulado
«
Direcçaõ, cons-
trucçaõ e methodo de trabalhar nas estra-
das, e do seu governo economico»
definia,
logo nos primeiros parágrafos, quatro cate-
gorias paraas estradas portuguesas,emfun-
ção da afluência de transporte, o que seria
determinante paraas dimensões da via.Nes-
tas circunstâncias,pelaprimeira vez aparecia,
de forma consistente e perfeitamente explí-
cita, a classificação da nossa rede viária em:
Methodo Para construir as
Estradas em Portugal
O
«
Methodo para construir as Estradas em
Portugal»
,
da autoria do Conselheiro José
Diogo Mascarenhas Neto foi publicado em
1790,
na cidade do Porto.Trata-se de um sin-
gular estudo,dedicado ao«Senhor Dom Joaõ
Príncipe do Brazil»,futuro D. JoãoVI,emque,
ao longo de cento e sessenta e sete pará-
grafos,distribuídos por três capítulos,disser-
tava sobre os métodos de construção e con-
servação das estradas do reino.
Logo na
Dedicatória
do livro, revelava uma
preocupação,bastante rara entre nós,que se
traduzia na vontade de partilhar experiên-
cias e conhecimentos, nomeadamente, pela
sua materialização numa obra escrita. De
facto, não são abundantes os escritos dos
nossos antepassados relatandoas suas vivên-
cias nos mais variados domínios e, particu-
larmente, sobre as suas experiências profis-
sionais.Aausência desses testemunhos,mui-
tos deles perdidos para sempre e, que por-
ventura se revelariam extraordinariamente
ricos,condicionam,hoje,a abordagemhistó-
rica de determinadas temáticas, especial-
mente de carácter mais técnico.
Nessa
Dedicatória
,
referia que
«
o Breve Tra-
tado da Construcçaõ das Estradas, que apre-
sento a V. Alteza Real, he uma prova de que
Estradas Reais, Estradas de Comércio, Estra-
das Públicas e Estradas de Vizinhança.
Ao longo do capítulo explanava, detalhada-
mente, as técnicas de construção, focando
problemas sobre a natureza dos solos, a
necessidade da inclinação da via ser suave,
o escoamento das águas pluviais e a com-
posição do pavimento da estrada, coma uti-
lização de várias camadas demateriais sobre-
postos.
Referia, ainda, a metodologia a seguir na
construção das estradas, fixando as tarefas
a desenvolver pelos trabalhadores e pelo
encarregado ou administrador da obra.Tecia,
também, algumas considerações sobre os
aspectos logísticos, de onde sobressaía a
introdução de uma
«...
casa portatil demadei-
ra,que semova por dous bois á proporçaõ,que
a obra se adiante, e serve para se guardarem
as ferramentas, maquinas, e mantimentos
necessarios para o sustento das pessoas que
trabalhaõ...».
Deste modo, com mais uma segunda
«
casa
portatil»
paradormitóriodos
«
obreiros»
,
con-
seguia-se uma razoável economia de mão
de obra, quer nas montagens, quer nas des-
montagens das Barracas de Campanha,que
implicavam operações bastante morosas.
Mascarenhas Neto, ao considerar a manu-
tenção das estradas um dos aspectos fun-
Página de rosto do livro «Methodo para construir as Estradas em Portugal» de Diogo Mascarenhas Neto.